Frases sobre tarde
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“DATILOGRAFIA Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano, Firmo o projeto, aqui isolado, Remoto até de quem eu sou. Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, O tique-taque estalado das máquinas de escrever. Que náusea da vida! Que abjeção esta regularidade! Que sono este ser assim! Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros (Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância), Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho, Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve, Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes. Outrora. Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, O tique-taque estalado das máquinas de escrever. Temos todos duas vidas: A verdadeira, que é a que sonhamos na infância, E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa; A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros, Que é a prática, a útil, Aquela em que acabam por nos meter num caixão. Na outra não há caixões, nem mortes, Há só ilustrações de infância: Grandes livros coloridos, para ver mas não ler; Grandes páginas de cores para recordar mais tarde. Na outra somos nós, Na outra vivemos; Nesta morremos, que é o que viver quer dizer; Neste momento, pela náusea, vivo na outra… Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever.”

Fernando Pessoa (1888–1935) poeta português

Fernando Pessoa - Poesia Completa de Álvaro de Campos

“A natureza observadora e emocionalmente determinada do espírito lunar é designada em alemão pelas palavras pertencentes à raiz Sinn, que significa meditar, ter em mente, ponderar, considerar e ser contemplativo; e também contemplação, inclinação mental, assim, como sentidos e sensual; por último, mas não menos importante, o Eigen-Sinn (vontade própria, obstinação) que os homens em geral atribuem às mulheres. A consciência matriarcal age através da circum-ambulação e da meditação. Falta-lhe o propósito do pensamento dirigido, da conclusão lógica e do juízo. Sua Ação característica é um movimento em torno de um círculo, uma contemplação (Betrachtung, uma vez interpretada por Jung como trachtigmachen, engravidar). Não tem o objetivo direto da consciência masculina, nem o fio aguçado de sua análise. Interessa-se mais pelo significativo do que por fatos e datas, e é orientada teleologicamente mais ao crescimento orgânico do que à causalidade mecânica ou lógica.
Uma vez que o processo de cognição nessa “consciência lunar“ é uma gravidez e seu produto um nascimento, um processo em que toda a personalidade participa, seu “conhecimento “não pode ser partilhado, relatado ou provado. É uma posse interior, realizada e assimilada pela personalidade, mas não facilmente discutida, porque a experiência interna que está por trás dela não se presta a uma exploração verbal adequada, e dificilmente pode ser transmitida a alguém que não tenha passado pela mesma experiência.
Por essa razão, uma consciência masculina pura e simples considera o “conhecimento” da consciência matriarcal não verificável, caprichoso e místico por excelência. Esse é, de fato, no sentido positivo, o cerne da questão. É a mesma espécie de conhecimento revelado nos mistérios e no misticismo. Consiste não de verdades partilhadas mas de transformações experimentadas, portanto necessariamente só tem validade para as pessoas que passaram pela mesma experiência. Para estas, o conselho de Goethe ainda vale:

Sagt es niemand, nur den Weisen, Weil die Menge gleich verhohnet
(Não conte a ninguém, apenas aos sábios, porque a multidão não tarda em zombar)

Isto quer dizer que as percepções de consciência matriarcal são condicionadas pela personalidade que as realiza. Não são abstratas nem desemocionalizadas, pois a consciência matriarcal conserva o vínculo com o reino do inconsciente do qual seu conhecimento brota. Suas descobertas interiores, estão, em conseqüência, em oposição direta às da consciência masculina, que consiste idealmente de conteúdos conscientes abstratos, livres de emocionalismo e possuidores de uma validade universal não afetada por fatores pessoais.”

The Fear of the Feminine and Other Essays on Feminine Psychology

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“Alegoria do Suicídio

Eu sei que hoje será o meu último dia na terra, eu decidi isso enquanto caminhava solitário pelas penumbras da noite. Procurei por cada canto daquela vazia avenida, e não encontrei nenhum motivo para existir.

Todos os motivos que eu supostamente haveria de encontrar eram mentiras contadas por mim mesmo afim de prolongar o castigo de viver.

Voltei para casa, peguei aquela velha corda que ficava guardada na segunda gaveta, amarrei-a sobre o teto, e me dependurei sobre a miséria.

Ali estava eu, debatendo-me enquanto sentia o nó daquela velha corda quebrando cada centímetro do meu pescoço, enquanto a minha alma escapava do meu corpo.

Eu me debatia, e meus olhos lacrimejavam-se, talvez, fossem lágrimas de arrependimento. Mas agora já era tarde demais…

Eu morri e minha alma caiu de joelhos diante da figura de um homem, aquele era eu, uma versão mais madura de mim que já havia passado por todos esses momentos de dor e agonia.

Acreditei por alguns segundos, estar diante da morte, pois o meu corpo ainda estava ali dependurado sobre a sala de estar.

Caminhei lado a lado com aquele homem misterioso, que com os dedos apontou para as estrelas e com uma voz suave ele me disse:

- Se algum dia o desejo da morte gritar em seu rosto, não aperte o gatilho! Pense nas estrelas, elas morrem não porque elas querem, e sim porque chegou a hora.



Viver sozinho é como mergulhar no infinito e voar até o céus tocando as nuvens e as estrelas

Estar sozinho é como voltar no tempo e sentir-se novamente uma criança ou um deus a vagar pelo cosmos

Andar sozinho é como viajar até o paraíso acompanhado por anjos ou dançar no inferno acompanhado por diabos

Viver sozinho… é também sentir a navalha cortar seus pulsos enquanto seu sangue jorra em alto mar é sufocar-se nas próprias lágrimas até que o seu pulmão se encha de sangue e a luz dos seus olhos se apague

Sobreviver sozinho é renascer do castigo de existir é limpar o sangue com as próprias mãos é caminhar mesmo quando já não existe mais chão é matar quando não te oferecem perdão é amar a si mesmo por compaixão

É viver sendo o único deus na escuridão…”

Gerson De Rodrigues (1995) poeta, escritor e anarquista Brasileiro
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“Trecho do livro 'Aforismos de um Niilista'

Quando abracei a solidão me senti livre, pois ali eu poderia ser eu mesmo, sem fingir, sem agradar, apenas sendo eu o monstro que foi jogado injustamente no mundo do qual ele não escolheu viver.

A Cada dia da minha vida, meus sentimentos se esvaem eu já não sinto ódio, ou raiva, amor, ou tristeza, felicidade para mim é uma impossibilidade sinto-me como se estivesse morto.

Todos os dias paro para refletir ‘como isso aconteceu?’

Em que determinado momento da vida eu me tornei um monstro? Um monstro que prefere a solidão a seus pais, um monstro que não sente, um monstro que não chora, um monstro cuja monstruosidade é o seu próprio ser.

Minha última lembrança de felicidade se dá aos meus cinco anos de idade brincando de bonequinhos com a minha mãe, e mais tarde com meu pai – mas em um determinado momento da minha infância eu dei início a metamorfose ambulante que se tornaria futuramente o monstro que sou hoje. Penso se isso está em meu DNA, ou se apenas sou o culpado por tamanha monstruosidade.

Eu afasto de mim amigos, namoradas e amantes, afasto também o amor sincero de meus pais; A Troco de que? A troco de nada! só puro e absoluto nada! O Nada Niilista seguido de uma solidão que apenas agrada a mim mesmo.

Confesso que preferia ter me enforcado no cordão umbilical e morrido no parto. O Puro e simples fato de ser eu mesmo, faz com que aqueles ao meu redor sofram com isso, é como carregar uma maldição da qual a cura é sua própria morte.

Mas fazer o que se sozinho é o que eu sou? Eu sou a solidão, eu sou o homem que caminha por ruas solitárias admirando a imensidão do cosmos. E Isso é tudo que eu sou….

Apenas um sozinho

E não lamento por isso, me orgulho de ser o que sou. Apenas lamento que minha existência possa ferir tantas pessoas pelo simples fato de existir.

Na vida temos duas escolhas, viver como quiser, ou viver para agradar os outros e cada escolha obviamente tem uma consequência.

‘’ Viver para agradar os outros’’ – seria o ato de viver como as pessoas ao seu redor escolhem

‘’ Viver como quiser’’ – é o ato de viver para si mesmo, ser o seu próprio deus, um soldado de Thelema como diria o ocultista Aleister Crowley

‘’ faz o que tu queres há de ser o todo da lei''

Por mais que as minhas escolhas pessoais possam afetar negativamente aqueles que se ‘importam’ comigo – de nada posso fazer pois não vivo para eles, vivo minha própria lei, sou o dono de mim mesmo.

Sinto-me um monstro, mas um monstro livre.

A Monstruosidade não é de todo mal, quem disse que os monstros são maus?

Somos vistos como monstros por aqueles que não entendem nossa humanidade”

Gerson De Rodrigues (1995) poeta, escritor e anarquista Brasileiro
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“Na história da raça humana, os períodos que mais tarde apareceu como grande foram os períodos em que os homens e as mulheres que lhes pertençam tinha transcendeu as diferenças que os dividia e tinha reconhecido na sua composição na raça humana um laço comum.”

Haile Selassie (1892–1975) Regente e Imperador da Etiópia

"Endereço em Haile Selassie I University (Agora Adis Abeba Universidade) honrando índio presidente sarvepalli radhakrishnan (13 de outubro de 1965)."

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“Apenas acordando nos gotta manhã graças a Deus.. Eu não sei, mas hoje parece meio estranho … Sem latidos dos cães, sem poluição E mamãe preparado um pequeno-almoço sem porco eu tenho o meu grub, mas não funcionavam porco fora Finalmente tenho um telefonema de uma garota quer cavar-lo mais tarde como eu bati o que pensa fazer eu vou viver, outros vinte e fo Eu tenho que ir porque eu me tenho uma capota E se eu acertar o interruptor, eu posso fazer a queda de bunda.. Tive que parar em um sinal vermelho que olha no espelho mym não um jacker em vista E tudo está bem eu tenho um bip do Kim e ela pode foder a noite toda.”

Ice Cube (1969)

"Just waking up in the morning gotta thank God.. I dont know but today seems kinda odd... No barking from the dogs, no smog And momma cooked a breakfast with no hog I got my grub on, but didnt pig out Finally got a call from a girl wanna dig out it up on later as I hit the do Thinking will i live, another twenty-fo I gotta go cause I got me a drop top And if I hit the switch, I can make the ass drop.. Had to stop at a red light Looking in mym mirror not a jacker in sight And everything is alright I got a beep from Kim and she can fuck all night."
Verificadas
Fonte: na música ( It Was A Good Day http://letras.mus.br/ice-cube/18646/)

“A desonestidade tem um preço muito caro que cedo ou tarde a pessoa terá que pagar para recuperar a própria dignidade.”

Zibia Gasparetto (1926–2018) escritora brasileira

Ninguém é de ninguém, Zibia Gasparetto, Vida E Consciência, 2001 - 373 páginas

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“Toda a arte de ensinar é apenas a arte de acordar a curiosidade natural nas mentes jovens, com o propósito de serem satisfeitas mais tarde, e a curiosidade é viva e saudável apenas nas mentes felizes.”

L'art d'enseigner n'est que l'art d'éveiller la curiosité des jeunes âmes pour la satisfaire ensuite, et la curiosité n'est vive et saine que dans les esprits heureux.
Le crime de Sylvestre Bonnard, membre de l'Institut - Volume 1 - Página 215 https://books.google.com.br/books?id=7CQPAAAAQAAJ&pg=PA215, Anatole France - Calmann-Lévy, 1849 - 323 páginas

Esta tradução está aguardando revisão. Está correcto?
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“Alguém sabe tão pouco. Quando se sabe mais, é tarde demais.”

Agatha Christie (1890–1976) escritora, romancista, contista, dramaturga e poetisa britânica

“Algo despertou atenção nas águas
Em uma bela tarde ensolarada de domingo
Entre a vida em quase morte
De uma criança que seguiu seu instinto

Pulou eminentemente nas correntezas
Cuja as águas do rio não podem ser paradas
Enquanto seus pulmões se encharcavam
O seu corpo pequeno sobre as águas boiava

A Corte Celestial solenemente surgiu
Luzes cegantes em branco incandescente
Vozes distantes e um turbilhão de centelhas
No fundo ouvia-se "Tsadic! Tsadic! Tsadic!"
Com pesar e tristeza

Surgiu uma luz onde já não mais se enxergava
E ouvia-se então uma voz imponente
Entonando "Neshamá Tsadic Yechidá para sempre!"
Enquanto seu espírito transcendia e era tocado
A criança assustada, então se acalmava

"Teu nome agora será esse, pois é pedido de um justo"
"Siga as mitzvot, não abaixe a cabeça e lute"
"Pois conheço teu coração e antevisto lhe preparei"
"Faça tua parte que da minha eu lhe cuidarei."

A criança então até sua matéria retorna
Dentro de um hospital em uma maca acordou relatando o ocorrido
Enquanto os médicos diziam que ela havia renascido.”

Algo despertou atenção nas águas Em uma bela tarde ensolarada de domingo Entre a vida em quase morte De uma criança que seguiu seu instinto Pulou eminentemente nas correntezas Cuja as águas do rio não podem ser paradas Enquanto seus pulmões se encharcavam O seu corpo pequeno sobre as águas boiava A Corte Celestial solenemente surgiu Luzes cegantes em branco incandescente Vozes distantes e um turbilhão de centelhas No fundo ouvia-se "Tsadic! Tsadic! Tsadic!" Com pesar e tristeza Surgiu uma luz onde já não mais se enxergava E ouvia-se então uma voz imponente Entonando "Neshamá Tsadic Yechidá para sempre!" Enquanto seu espírito transcendia e era tocado A criança assustada, então se acalmava "Teu nome agora será esse, pois é pedido de um justo" "Siga as mitzvot, não abaixe a cabeça e lute" "Pois conheço teu coração e antevisto lhe preparei" "Faça tua parte que da minha eu lhe cuidarei." A criança então até sua matéria retorna Dentro de um hospital em uma maca acordou relatando o ocorrido Enquanto os médicos diziam que ela havia renascido.
ABRAHAM SCHNEERSOHN

“Algo despertou atenção nas águas
Em uma bela tarde ensolarada de domingo
Entre a vida em quase morte
De uma criança que seguiu seu instinto

Pulou eminentemente nas correntezas
Cuja as águas do rio não podem ser paradas
Enquanto seus pulmões se encharcavam
O seu corpo pequeno sobre as águas boiava

A Corte Celestial solenemente surgiu
Luzes cegantes em branco incandescente
Vozes distantes e um turbilhão de centelhas
No fundo ouvia-se “Tsadic! Tsadic! Tsadic!”
Com pesar e tristeza

Surgiu uma luz onde já não mais se enxergava
E ouvia-se então uma voz imponente
Entonando “Neshamá Tsadic Yechidá para sempre!”
Enquanto seu espírito transcendia e era tocado
A criança assustada, então se acalmava

“Teu nome agora será esse, pois é pedido de um justo”
“Siga as mitzvot, não abaixe a cabeça e lute”
“Pois conheço teu coração e antevisto lhe preparei”
“Faça tua parte que da minha eu lhe cuidarei.”

A criança então até sua matéria retorna
Dentro de um hospital em uma maca acordou relatando o ocorrido
Enquanto os médicos diziam que ela havia renascido. Algo despertou atenção nas águas
Em uma bela tarde ensolarada de domingo
Entre a vida em quase morte
De uma criança que seguiu seu instinto

Pulou eminentemente nas correntezas
Cuja as águas do rio não podem ser paradas
Enquanto seus pulmões se encharcavam
O seu corpo pequeno sobre as águas boiava

A Corte Celestial solenemente surgiu
Luzes cegantes em branco incandescente
Vozes distantes e um turbilhão de centelhas
No fundo ouvia-se “Tsadic! Tsadic! Tsadic!”
Com pesar e tristeza

Surgiu uma luz onde já não mais se enxergava
E ouvia-se então uma voz imponente
Entonando “Neshamá Tsadic Yechidá para sempre!”
Enquanto seu espírito transcendia e era tocado
A criança assustada, então se acalmava

“Teu nome agora será esse, pois é pedido de um justo”
“Siga as mitzvot, não abaixe a cabeça e lute”
“Pois conheço teu coração e antevisto lhe preparei”
“Faça tua parte que da minha eu lhe cuidarei.”

A criança então até sua matéria retorna
Dentro de um hospital em uma maca acordou relatando o ocorrido
Enquanto os médicos diziam que ela havia renascido.”

“NAMORO À DISTÂNCIA


Na quinta feira eu a busco na rodoviária
E a gente vai para casa
E não se acanha nem mesmo no elevador do prédio
E espalha as roupas e sapatos e mochilas pelo chão do apartamento E ali ficamos, em silêncio de pequena morte.

Já na sexta feira levantamos tarde Só que acordamos cedo Despertados pelo maior dos desejos Quando assim começa o dia
Entre gozos e gemidos
E com a cama antiga rangendo desesperada Cada vez mais alto.

Sábado é dia de receber amigos sempre tão queridos E eu fico orgulhoso de mãos dadas
Quase que me exibindo aos convidados
Com a minha namorada tão maravilhosa
E que veio para estar no feriado
Ao meu lado
Fazendo o nosso almoço italiano
E encantando com o seu sorriso
A todos os ali presentes.

Domingo bem cedo andamos de bicicleta lá no parque da cidade Visitamos os meus pais idosos
Almoçamos uma barca de comida japonesa
Mas alguma coisa
(Eu já sinto)
Está severamente errada.
O dia transcorre
O meu enfado já está patente
A minha irritação fica notória

O mau-humor impera
E a minha namorada inaugura o pranto mais discreto
Disfarçado e silencioso
Sem saber o que de fato
Está conosco acontecendo.

Não se culpe, namorada
Porque a distância é que não permite
Que entremos
Com recíproca e com entrega
Na estranha liturgia de nossas rotinas
A centenas de quilômetros distantes

E assim eu sinto que sou invadido
Alcunhando-lhe covardemente como Invasiva
Estrangeira
Forasteira

E você, por consequência
Sente medo e insegurança
Acionando a perigosa chave de ciúmes
Com as reações de defensiva clássicas.

E é quando, então, a gente briga de verdade
E a gente chora junto
E eu deixo você na rodoviária no início da noite Em silêncio de sepulcro

E dessa maneira o feriado acaba.

Eu preciso ter você mais perto
Eu preciso ter você no dia-a-dia
Eu preciso viajar mais vezes
Eu preciso que retorne muitas outras vezes
E que nos comprometamos com o fato de que somos a prioridade um do outro.
Eu preciso lhe pedir desculpas
E dizer mil vezes o quanto eu a cada dia mais
Te amo.

E dizer também que a sua mera existência dá sentido à minha vida.”

“Meu Fracasso Retumbante


Ela hostiliza a mim e ao meu trabalho, minhas madrugadas entre a biblioteca e a sala principal do escritório - devo estar pecando mortalmente em ficar até mais tarde entre os meus livros e as minhas vãs filosofias.

Briga porque não assisto a novela - e ainda porque desconheço os personagens na Gloria Pérez, inverossímeis e estranhos.

Aperreia-se diante de meu desconhecimento sobre o “Big Brother” desse ano. Acha errado eu não ter votado em alguém. Acha um absurdo eu não conhecer de cor todos os participantes.

Dorme inconformada quando eu não abro as mensagens que a própria me envia, excitada, exaltada, quase que gozando sobre as estrelas do cinema que se separaram, e as que morreram, sucumbiram, e também aquelas que estão reclusas, dependentes de anfetaminas e de outras coisas bem piores.

E acorda ao meio dia, mais inconformada ainda, já que eu tive que sair da cama muito cedo, tomar o meu banho, fazer minha barba e esconder-me por dentro de terno e gravata (ferramentas de trabalho imprescindíveis), travestido de alguém que necessita labutar bastante.

Ela me ofende em todas as vezes nas quais eu refuto a literatura espírita ou de auto-ajuda - porque digo que não são literatura; ela desconhece Kant, desconhece Nietzche, desconhece obras inacabadas dos que foram muito fodas e que nos deixaram cedo. Livros que estão aqui em casa, nas estantes da biblioteca. Gratuitos e plenamente acessíveis.

Mas ainda assim eu digo que lhe compreendo mesmo desse jeito, uma vez que não existe obrigação alguma de embriagar-se por dentre os meus grandes “clássicos”, nem mesmo de escutar as músicas que eu escuto ou assistir os filmes que tanto amo do Fellini ou do Almodóvar. Só que ela, muito ao contrário, me “descompreende” de maneira aviltante e ofensiva, e me alcunha de desordenado, de improdutivo e de desinformado (!).

Ela não percebe que o amor verdadeiro tende a rarear quando a admiração se esvazia; quando ela tenta, sem sucesso, encaixar-me na moldura de seu mundo, em vez de modelar um mundo totalmente novo, de informações que se completem e que nos por abarquem inteiros, “de conchinha”. E, ainda que eu lhe bendiga o melhor de tudo o que existe, permaneço triste. Sua companhia me faz falta.

Ela é a prova viva de que gentileza não atrai a gentileza.

E eu sou o egoísmo e a covardia em estado puro. Eu preciso alforria-la de minha presença alienígena, desagradável, para que encontre alguém que lhe idolatre como eu já fiz em idos tempos, engajado nos padrões nos quais, definitivamente, eu infelizmente não me encaixo.

Seja então inteiramente livre, minha amiga linda!!!
Pois que a sua liberdade me libertará de insuportável melancolia, e transformará você em regozijo puro. Eu aceitarei o “pé na bunda” com estoicismo; a alcunha de fracote, ou de fracassado incompetente, ou até do idiota lá de Dostoiévski. E aceitarei os xingamentos com o coração tranquilo. Despojado dessa culpa enorme de não lhe fazer sentir mais alegria.”

Esta tradução está aguardando revisão. Está correcto?
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