Frases sobre vestígio

Uma coleção de frases e citações sobre o tema da vestígio, eternidade, vida, tempo.

Frases sobre vestígio

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“Poema - Haraquiri

Quantas noites
sem dormir são necessárias
para se matar um homem
que se abdicou da sua própria vida?

Se enxergastes
as feridas contidas na minha alma
chorarias por toda a eternidade

Tampouco suportarias
uma única noite acordado

Sem imaginar as suas tripas
espalhadas por toda a casa

Se a morte
se apaixonasse pela vida
a grande tragédia
seria a de sepultá-la todas as manhãs

- Não tens sonhos?
me perguntas espantado

Possuo os mais terríveis dos pesadelos
e em todos eles eu sou um homem morto

Que sorri para a vida
como um sátiro

Segurando o corpo
moribundo de cristo
em um altar de descrenças

- Não acreditas nos deuses?
continuas gritando em busca
da minha salvação

Os deuses?
tampouco me importa a metafisica
ou a sublime razão das ciências

Do que adiantas!?
para um homem morto
a paixão dos falsos deuses
ou as razões de um intelecto falho

- Busque o amor
apaixone-se pela vida

Continuas esperneando
em uma tentativa falha de salvar a minha alma

O Amor?
do que me serves a paixão?
se eu não posso sentir

Em meu coração
nasceram cobras e baratas

Nas minhas entranhas vivem
os vestígios da morte
e os sonhos da vida

- Cale-se!
este Niilismo não o levara
a lugar nenhum!

Gritas tu enfurecido
com ódio dos antigos filósofos

O Niilismo?
abdiquei-me da Filosofia!

Afastem para longe de mim
os pensamentos dos homens

As minhas dores
não podem ser descritas
em meras palavras
o que eu sinto transcende o Niilismo

Eu sou o messias
do meu próprio testamento
morto na minha própria cruz
mas sem os seguidores de jesus

Porque não há nada
que eu possa ensinar aos homens
que as baratas já não tenham feito em meu lugar

- Então mate-se de uma vez!
gritas já sem esperança

Do que me serves o suicídio?
se eu nunca fui capaz de amar…

O Vazio na minha alma
é tão profundo
que o ato de me suicidar
torna-se insignificante

Alma!?
tampouco sei se a tenho

E se a tivesse
venderias ao Diabo
como sinal de sacrifício!

Não me interessam os devaneios dos homens
ou a paixões dos deuses

Interessa-me apenas a morte
e o fim de todas as coisas!

- Gerson De Rodrigues”

Gerson De Rodrigues (1995) poeta, escritor e anarquista Brasileiro

Niilismo Morte Deus Existencialismo Vida Nietzsche

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“Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco foram se
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo manchas, graça, voo.
O gato
só gato
apareceu completo
e orgulhoso
nasceu completamente terminado,
caminha sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente queria ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para ser andorinha,
o poeta tenta imitar a mosca,
mas o gato só quer ser gato
e todo gato é gato
do bigode até o rabo,
do pressentimento ao rato vivo,
da noite até seus olhos de ouro.

Não existe unidade
como ele,
nem têm a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa só
como o sol ou o topázio,
e a elástica linhade seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para pôr as moedas da noite.

Ó pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
farejando,
desconfiado
de tudo que é terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Ó fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso,
ginástico,
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
das moradas,
talvez não sejas mistério,
todo mundo sabe-te e pertences
ao habitante menos misterioso,
talvez todos o creiam,
todos se creiam donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos
de seu gato.

Eu não.
Eu não concordo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica,
o gineceu com seus extravios,
o mais e o menos da matemática,
os funis vilcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro, o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou em sua indiferença,
seus olhos têm números de ouro.”

Pablo Neruda (1904–1973) Escritor

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“Em leito de penas
não se alcança a fama nem sobre as cobertas;
Quem a vida consome sem a fama,
não deixa de si nenhum vestígio sobre a terra,
qual fumo no ar e espuma na água.”

Dante Alighieri (1265–1321) italiano autor da epopéia, A divina comédia, considerado um entre os maiores poetas de todos os tempos; sua…

Variante: Em leito de penas não se alcança a fama nem sobre as cobertas; Quem a vida consome sem a fama, não deixa de si nenhum vestígio sobre a terra, qual fumo no ar e espuma na água.

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“É questão de certo interesse perceber que as artes populares dos EUA da virada do milênio tratam a anedonia e o vazio interno como coisas descoladas e cool. De repente são vestígios da glorificação romântica do mundo e sofisticada e aí consumida por pessoas mais jovens que não apenas consomem arte mas a examinam em busca de pistas de como ser chique, cool - e não esqueça que, para os jovens em geral, ser chique e cool é o mesmo que ser admirado, aceito e incluído e portanto assolitário. Esqueça a dita pressão-dos-pares. É mais tipo uma fome-de-pares. Não? Nós entramos numa puberdade espiritual em que nos ligamos ao fato de que o grande horror transcendente é a solidão, fora o enjaulamento em si próprio. Depois que chegamos a essa idade, nós agora daremos ou aceitaremos qualquer coisa, usaremos qualquer máscara para nos encaixar, ser parte-de, não estar Sós, nós os jovens. As artes dos EU são o nosso guia para a inclusão. Um modo-de-usar. Elas nos mostram como construir máscaras de tédio e de ironia cínica ainda jovens, quando o rosto é maleável o suficiente para assumir a forma daquilo que vier a usar. E aí ele se prende ao rosto, o cinismo cansado que nos salva do sentimentalismo brega e do simplismo não sofisticado. Sentimento é igual a simplismo neste continente (ao menos desde a Reconfiguração). […] Hal, que é vazio mas não é besta, teoriza privadamente que o que passa pela transcendência descolada do sentimentalismo é na verdade algum tipo de medo de ser realmente humano, já que ser realmente humano (ao menos como ele conceitualiza essa ideia) é provavelmente ser inevitavelmente sentimental, simplista, pró-brega e patético de modo geral, é ser de alguma maneira básica e interior para sempre infantil, um tipo de bebê de aparência meio estranha que se arrasta anacliticamente pelo mapa, com grandes olhos úmidos e uma pele macia de sapo, crânio enorme, baba gosmenta. Uma das coisas realmente americanas no Hal, provavelmente, é como ele despreza o que na verdade gera a sua solidão: esse horrendo eu interno, incontinente de sentimentos e necessidades, que lamenta e se contorce logo abaixo da máscara vazia e descolada, a anedonia.”

David Foster Wallace (1962–2008)
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“Por delicadeza / Devia cada um resolver seu vestígio, / Não deixar o corpo a esmo, / Atravessado na passagem, / Sem desejo, sem enigma.”

Pietà, in Treva Alvorada, (Editora Iluminuras, 2010).
Crônicas, Poemas