“Eu cresceria convencido de que aquela lenta procissão de pós-guerra, um mundo de quietude, de miséria e de rancores escondidos, era tão natural quanto a água da torneira, e que aquela tristeza muda que sangrava das paredes da cidade ferida era o verdadeiro rosto de sua alma. Uma das armadilhas da infância é que não é preciso se entender uma coisa para sentir. Quando a razão é capaz de entender o ocorrido, as feridas no coração já são profundas demais. (…) No meu mundo, a morte era uma mão anônima e incompreensível, um vendedor a domicílio que levava mães, mendigos ou vizinhos nonagenários como se fosse uma loteria do inferno. A idéia de que a morte pudesse caminhar ao meu lado, com rosto humano e coração envenenado de ódio, vestida de uniforme ou capa de chuva, que fizesse fila no cinema, que risse nos bares ou levasse as crianças para passear no parque Ciudadela de manhã, e que de tarde fizesse desaparecer alguém nas masmorras do castelo de Montjuic ou numa fossa sem nome nem cerimonial, não entrava na minha cabeça. Ruminando o assunto, pensei que talvez aquele universo artificial que eu considerava bom não fosse senão uma cena armada. Naqueles anos roubados, o fim da infância, como a Renfe, chegava quando chegava.
A sombra do vento”

Rio de Janeiro: Suma de Letras, 2007. p. 33
A sombra do vento

Obtido da Wikiquote. Última atualização 21 de Maio de 2020. História

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“Uma das armadilhas da infância é que não é preciso se entender uma coisa para sentir. Quando a razão é capaz de entender o ocorrido, as feridas no coração já são profundas demais.”

The Shadow of the Wind
Variante: Uma das armadilhas da infância é que não é preciso compreender para sentir. Na altura em que a razão é capaz de compreender o sucedido, as feridas no coração já são demasiado profundas.

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“Eu aprendi, que tudo o que precisamos, é de uma mão para segurar e um coração para nos entender.”

William Shakespeare (1564–1616) dramaturgo e poeta inglês

Variante: Percebo as vezes que precisamos de uma mão para segurar e um coração para nos entender

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“Quanto mais você entender de si mesma, mais entenderá do mundo.”

Brida - página 71, Paulo Coelho - Rocco, 1995 - 286 páginas
Por obra, Brida

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