“É questão de certo interesse perceber que as artes populares dos EUA da virada do milênio tratam a anedonia e o vazio interno como coisas descoladas e cool. De repente são vestígios da glorificação romântica do mundo e sofisticada e aí consumida por pessoas mais jovens que não apenas consomem arte mas a examinam em busca de pistas de como ser chique, cool - e não esqueça que, para os jovens em geral, ser chique e cool é o mesmo que ser admirado, aceito e incluído e portanto assolitário. Esqueça a dita pressão-dos-pares. É mais tipo uma fome-de-pares. Não? Nós entramos numa puberdade espiritual em que nos ligamos ao fato de que o grande horror transcendente é a solidão, fora o enjaulamento em si próprio. Depois que chegamos a essa idade, nós agora daremos ou aceitaremos qualquer coisa, usaremos qualquer máscara para nos encaixar, ser parte-de, não estar Sós, nós os jovens. As artes dos EU são o nosso guia para a inclusão. Um modo-de-usar. Elas nos mostram como construir máscaras de tédio e de ironia cínica ainda jovens, quando o rosto é maleável o suficiente para assumir a forma daquilo que vier a usar. E aí ele se prende ao rosto, o cinismo cansado que nos salva do sentimentalismo brega e do simplismo não sofisticado. Sentimento é igual a simplismo neste continente (ao menos desde a Reconfiguração). […] Hal, que é vazio mas não é besta, teoriza privadamente que o que passa pela transcendência descolada do sentimentalismo é na verdade algum tipo de medo de ser realmente humano, já que ser realmente humano (ao menos como ele conceitualiza essa ideia) é provavelmente ser inevitavelmente sentimental, simplista, pró-brega e patético de modo geral, é ser de alguma maneira básica e interior para sempre infantil, um tipo de bebê de aparência meio estranha que se arrasta anacliticamente pelo mapa, com grandes olhos úmidos e uma pele macia de sapo, crânio enorme, baba gosmenta. Uma das coisas realmente americanas no Hal, provavelmente, é como ele despreza o que na verdade gera a sua solidão: esse horrendo eu interno, incontinente de sentimentos e necessidades, que lamenta e se contorce logo abaixo da máscara vazia e descolada, a anedonia.”

Última atualização 4 de Junho de 2021. História

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“Uma pessoa chique ganhando uma garrafa de cachaça é uma coisa chique. Mas um metalúrgico ganhando uma garrafa de cachaça, é porque ele é cachaceiro.”

Luiz Inácio Lula da Silva (1945) político brasileiro, 35º presidente do Brasil

Sobre os preconceitos que sofreu por ser o primeiro presidente operário do Brasil
Biografia, 2010
Fonte: Declaração feita em Goiânia em 12.02.2010 http://terratv.terra.com.br/Noticias/Brasil/4194-270408/Lula-fala-de-bebida-ponto-G-e-extincao-da-perereca.htm

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“A arte nunca deve tentar ser popular. O público é que deve tentar ser artístico.”

Oscar Wilde (1854–1900) Escritor, poeta e dramaturgo britânico de origem irlandesa
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“A arte do político é fazer que seja do interesse de cada um ser virtuoso.”

Claude Adrien Helvétius (1715–1771)

L'art du politique est de faire en sorte qu'il soit de l'interest d'un chacun d'etre vertueux.
Notes de la main d'Helvetius‎ - Página 25, de Helvetius, Claude-Adrien Helvétius, Albert Keim - Publicado por F. Alcan, 1907 - 116 páginas (publiées d]après un manuscrit inédit: Avec une introd. et des commentaires)

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