“O único referente que ainda funciona é o da maioria silenciosa. Todos os sistemas atuais funcionam sobre essa entidade nebulosa, sobre essa substância flutuante cuja existência não é mais social mas estatística, e cujo único modo de aparição é o da sondagem. Simulação no horizonte do social, ou melhor, no horizonte em que o social já desapareceu.

O fato de a maioria silenciosa (ou as massas) ser um referente imaginário não quer dizer que ela não existe. Isso quer dizer que não há mais representação possível. As massas não são mais um referente porque não têm mais natureza representativa. Elas não se expressam, são sondadas. Elas não se refletem, são testadas.
(…)Bombardeadas de estímulos, de mensagens e de testes, as massas não são mais do que um jazigo opaco, cego, como os amontoados de gases estelares que só são conhecidos através da análise do seu espectro luminoso - espectro de radiações equivalente às estatísticas e às sondagens. Mais exatamente: não é mais possível se tratar de expressão ou de representação, mas somente de simulação de um social para sempre inexprimível e inexprimido. Esse é o sentido do seu silêncio. Mas esse silêncio é paradoxal - não é um silêncio que fala, é um silêncio que proíbe que se fale em seu nome. E, nesse sentido, longe de ser uma forma de alienação, é uma arma absoluta.

Ninguém pode dizer que representa a maioria silenciosa, e esta é sua vingança. As massas não são mais uma instância à qual se possa referir como outrora se referia à classe ou ao povo. Isoladas em seu silêncio, não são mais sujeito (sobretudo, não da história), elas não podem, portanto, ser faladas, articuladas, representadas, nem passar pelo “estágio do espelho” político e pelo ciclo das identificações imaginárias. Percebe-se que poder resulta disso: não sendo sujeito, elas não podem ser alienadas - nem em sua própria linguagem (elas não têm uma), nem em alguma outra que pretendesse falar por elas. Fim das esperanças revolucionárias. Porque estas sempre especularam sobre a possibilidade de as massas, como da classe proletária, se negarem enquanto tais. Mas a massa não é um lugar de negatividade nem de explosão, é um lugar de absorção e de implosão.”

In the Shadow of the Silent Majorities

Última atualização 4 de Março de 2022. História

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“A única educação musical que tive foi descobrir sobre o blues. Quer dizer, eu queria saber tudo.”

Eric Clapton (1945)

The only education I ever really had was finding out about the blues. I mean, I wanted to know everything
citado em Guitar world presents 100 greatest guitarists of all time from the pages of ...‎ - página 16, de Jeff Kitts, Hal Leonard Publishing Corporation, Brad Tolinski - Hal Leonard Corporation, 2002, ISBN 0634046195, 9780634046193 - 128 páginas

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“A maioria dos homens vivem vidas de silencioso desespero”

Henry David Thoreau (1817–1862)

Desperation, mass of men lead lives of quiet
Walden with Thoreau's Essay "On the Duty of Civil Disobedience" - Página 10 http://books.google.com.br/books?id=pbElaJ5zROUC&pg=PA10, Henry David Thoreau - Arc Manor LLC, 2007, ISBN 1604500190, 9781604500196 - 220 páginas

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