“Uma das poucas coisas da infância no Meio-Oeste que ainda me fazem falta é essa convicção bizarra, iludida porém inabalável, de que tudo ao meu redor existia única e exclusivamente Para Mim. Serei eu o único a ter possuído essa sensação profunda e estranha quando criança? - de que tudo exterior a mim existia apenas na medida em que me afetava de alguma maneira? - de que todas as coisas eram de alguma maneira, por via de alguma atividade adulta obscura, especialmente dispostas ao meu favor? Alguém mais se identifica com essa memória? A criança deixa um quarto e agora tudo naquele quarto, assim que ela não está mais lá para ver, se dissolve numa espécie de vácuo de potencial ou então (minha teoria pessoal da infância) é levado embora por adultos escondidos e armazenado até que uma nova entrada da criança no quarto ponha tudo de volta em serviço ativo. Será que era insanidade? Era radicalmente egocêntrica, é claro, essa convicção, e consideravelmente paranoica. Fora a responsabilidade que implicava: se o mundo inteiro se dissolvia e se desfazia cada vez que eu piscava, o que aconteceria se meus olhos não abrissem?

Talvez o que me faça falta agora seja o fato de o egocentrismo radical e delusório de uma criança não lhe trazer conflitos nem dor. Cabe a ela o tipo de solipsismo majestosamente inocente de, digamos, o Deus do bispo Berkeley: as coisas não são nada até que sua visão as extraia do vazio: sua estimulação é a própria existência do mundo. E talvez por isso uma criança pequena tema tanto o escuro: não tanto pela possível presença de coisas cheias de dentes escondidas no escuro, mas precisamente pela ausência de tudo que sua cegueira apagou. Para mim, ao menos, com o devido respeito aos sorrisos indulgentes dos meus pais, esse era o verdadeiro motivo por trás da necessidade de uma luz noturna: ela mantinha o mundo nos eixos.”

Ficando Longe do Fato de já Estar Meio que Longe de Tudo

Última atualização 10 de Agosto de 2025. História

Citações relacionadas

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“A única história que vale alguma coisa é a história que fazemos hoje.”

Henry Ford (1863–1947)

only history that is wor-th a tinker's damn is the history we make We want to live in the present, and the today.
citado em American Rifleman - Volume 60 - Página 189, National Rifle Association of America - 1916
Atribuídas

“Todo homem que encontro é superior a mim em alguma coisa. Por isso, dele sempre aprendo alguma coisa.”

Every man I meet is my master in some point, and in that I learn of him.
Letters and Social Aims - Página 254 https://books.google.com.br/books?id=mVcRAAAAYAAJ&pg=PA254, Ralph Waldo Emerson - Houghton, Mifflin, 1875 - 333 páginas

“A adolescência foi a única época em que aprendi alguma coisa.”

Variante: A adolescência foi a única época em que aprendi algo.

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