“Poema - Inquietudes de um homem louco

Beijem os meus pés
pois eles caminharam sobre o sangue sagrados dos deuses
e não há nenhum pecado no mundo
que eu não os tenha sentido

Na dúbia luz dos meus olhos
reside uma inquietante solidão;

E nesta loucura que me atormenta
nascem devaneios vislumbres
de uma mente insana

Trancafiado no meu quarto como um animal
sou engolido por estas paredes de mentira
que já me viram chorar

Aqueles que me cercam
dos poucos que ainda não foram embora
acreditam que estou ficando louco
porque eu passo o tempo inteiro sozinho
e a minha única companhia são os livros velhos na estante

Aos poucos eles se afastam de mim
eu deveria me sentir culpado
mas sinto-me livre

E esta necessidade de viver só
funde-se com o sangue que corre em minhas veias
corto os meus punhos
e afogo meus pulmões em minha própria miséria

Sou um homem livre
e a minha maldição é viver

Aproximo-me da noite
e o silencio abre os meus olhos
solitário como um pássaro a se esconder da chuva
eu me divirto com a minha própria sombra

Eu sou o herdeiro dos sonhos
um anjo a vagar sobre a terra
e do sangue que escorreram das minhas asas
escrevi profanas poesias

Pois somente os indivíduos verdadeiramente elevados,
tornam-se Deuses ao se apaixonar pela solidão

- Gerson De Rodrigues”

Morte Amor Solidão

Última atualização 22 de Maio de 2020. História

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“O que é o homem sem os animais? Se todos se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais também afeta o homem. Tudo está relacionado entre si.”

Sealth (1786–1866)

What is man without the beasts? If all the beasts were gone, men would die from a great loneliness of spirit. For whatever happens to the beasts, soon happens to man. All things are connected.
Sealth, chefe indígena da tribo Seattle, 1854; Recovering the word: essays on native American literature - Página 527 http://books.google.com.br/books?id=aGiqSYX5ftQC&pg=PA527, Brian Swann, Arnold Krupat - 1987 - 644 páginas

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“Poema - Esquizofrenias & Metáforas

Se as estrelas fossem
capazes de escrever poesias
escreveriam sobre a morte do universo
não há nada mais poético
do que a arte de morrer

Se os deuses descessem dos céus
e me oferecessem uma nova vida
eu a aceitaria!
só pelo prazer de me enforcar
nos cordões umbilicais
e apodrecer nas entranhas
da minha própria mãe

Achas que eu sou louco?
me consideras insano?

Não tentem compreender os meus poemas
se não consegues ouvir as vozes em sua mente

Os Filósofos e os Poetas
são como os Deuses e os Diabos
eles podem elevar os homens aos céus,
ou submetê-los a vermes insignificantes

Sinto o vírus da vida corroer as minhas entranhas
desde as auroras do meu nascimento

Eu sou um homem falho
um anjo caído que não foi capaz amar

Fazem dias que eu não consigo dormir
nos devaneios da minha mente insana
mato-me todas as noites
para suportar a dor

A Filosofia e a insônia
são como a noite e as estrelas
lábios que nos beijam e nos levam a loucura

É Por isso que as mentes mais insanas
compartilham com a noite
o desejo da morte que apenas as estrelas podem compreender

Em uma destas noites frias
uma sinfonia terrível rasgou os céus
anjos e demônios caíram sem as suas asas
crianças choravam e gritavam

- Deus! Deus!
gritavam os fiéis

Aquela silenciosa e melancólica noite
havia se tornado um terrível pesadelo

A Morte e o Diabo
invadiram o meu quarto com o seu cavalo de fogo
beijaram-se sobre a minha cama
enquanto gargalhavam sobre as minhas descrenças

Acreditei fielmente que a morte iria
me poupar deste inferno
lancei-me aos seus pés de joelhos

Gritando como um homem louco!

- Joguem-me em uma vala qualquer!
me enterrem vivo!
mesmo que eu grite por misericórdia
ou arranque as minhas próprias tripas em desespero
matem-me sem nenhum perdão

Ela sorriu de tal maneira
e com uma voz cruel gritou em meus ouvidos

- Se queres morrer
Viva intensamente!

Viva até que os vermes tenham pena da sua carcaça
viva até que os deuses desçam dos céus em suas carruagens
e implorem a ti pelo suicídio final”

Gerson De Rodrigues (1995) poeta, escritor e anarquista Brasileiro

Fonte: Niilismo Poesia Fernando Pessoa

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