“Liguei para Carmen García Mallo, uma das minhas melhores amigas, com o ânimo sombrio e furibundo:
— Hoje eu queria escrever, tinha o dia todo para escrever, e desperdicei o tempo respondendo e-mails.
— Por quê?
— Sei lá. Às vezes a gente evita começar o trabalho. É uma coisa esquisita.
— Por preguiça?
— Não, não.
— Por quê?
— Por medo.
Não soube explicar, mas ontem, na desproteção extrema da noite, na claridade alucinada da noite, enquanto me revirava na cama, entendi exatamente o que queria dizer. Por medo de tudo o que você deixa sem escrever uma vez que parte para a ação. Por medo de concretizar a ideia, de aprisioná-la, deteriorá-la, mutilá-la. Enquanto permanecem no rutilante limbo do imaginário, enquanto são somente ideias e projetos, seus livros são absolutamente maravilhosos, os melhores livros que já foram escritos. E só depois, quando você os vai cravando na realidade palavra por palavra, como Nabokov cravava suas pobres borboletas na cortiça, é que se transformam em coisas inevitavelmente mortas, em insetos crucificados, por mais que sejam recobertos por um triste pó de ouro.”
La loca de la casa
Tópicos
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citado em "Fala Rock" - página 117, de Carmem Cacciacarro, Editora Garamond,ISBN 8576170744, 9788576170747, 144 páginas

Variante: Você vê coisas e diz: Por quê? Mas eu, sonho coisas que nunca existiram e digo: Por que não?

“Eu queria escrever um livro. Mas onde estão as palavras? Esgotaram-se os significados.”

“Não que eu esteja com medo de morrer. Eu só não queria estar lá quando isso acontecesse.”