“Em Paris, passeando de braço dado com uma noiva casual num outono tardio, quase não conseguia conceber felicidade mais pura que daquelas tardes douradas, com cheiro rústico das castanhas nos braseiros, os acordões sentimentais, os namorados insaciáveis que não acabavam de se beijar nunca na calçada dos cafés, mas mesmo assim dizia a si mesmo com a mão no coração que não se dispunha a trocar por tudo aquilo um único instante do seu Caribe em abril. Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graça a esse artifício conseguimos suportar o passado. Mas quando voltou a ver do convés do navio o promontório branco do bairro colonial, os urubus imóveis nos telhados, a roupa dos pobres estendida a secar nas sacadas, compreendeu até que ponto tinha sido uma vítima fácil das burlas caritativas da saudade.”
Love in the Time of Cholera
Tópicos
saudade , coração , memória , cheiro , felicidade , café , mão , branco , roupa , dado , navio , ponta , único , graça , braço , tarde , ponte , instante , ponto , vítima , namorado , calçado , pobre , jovem , telhado , noiva , saber , burla , ainda , artifício , imóvel , passado , ver , lembrança , bairro , boa , acórdão , abril , castanha , braseiro , outonoGabriel García Márquez 256
1927–2014Citações relacionadas

“Nunca é tarde demais pra começar tudo de novo…”
“Talvez tudo, talvez nada. Porque era cedo demais e nunca tarde.”

“Eu ainda estou em entrevistador a falar com o rústico.”
" Como vai ser ", Mixórdia de Temáticas 17-02-2012