“Serenado um pouco, abriu o livro e retomou a leitura. Esqueceu-se de si próprio por completo e bem podia então dizer que morrera. Sonhava no outro, ou melhor, o outro era um sonho que nele se sonhava, uma criatura da sua infinita solidão. Até que despertou com uma terrível pontada no peito. A personagem do livro acabara de lhe dizer de novo: «Devo repetir ao leitor que comigo morrerá.». E desta vez o efeito foi espantoso. O trágico leitor perdeu o conhecimento naquele seu leito de sofrimento espiritual; deixou de sonhar no outro e deixou de sonhar-se a si mesmo. E quando voltou a si, lançou fora o livro, apagou a luz e procurou adormecer, deixar de sonhar. Impossível! De quando em quando tinha de levantar-se para beber água; ocorreu-lhe que bebia no Sena, no espelho. «Estarei louco? - repetia -. Certamente que não, porque quando uma pessoa se pergunta se está louca é porque não está…». Levantou-se, pegou-lhe o fogo na lareira e queimou o livro, voltando em seguida a deitar-se. E conseguiu finalmente adormecer.”
Cómo se hace una novela
Tópicos
sonho , efeito , água , personagem , certo , peito , livro , pessoas , final , leite , livros , pergunta , fogo , leitor , leitura , espelho , conhecimento , sonhos , luz , próprio , vez , pessoa , bem , seguida , infinito , melhor , dizer , outro , então , pódio , pouco , sofrimento , louco , criatura , completo , novo , solidãoMiguel de Unamuno 91
1864–1936Citações relacionadas

citado em "José Saramago: il bagaglio dello scrittore" - Página 41, de Giulia Lanciani - Publicado por Bulzoni, 1996 ISBN 8871199332, 9788871199337 - 256 páginas

“O autor escreve apenas metade de um livro. A outra metade fica por conta do leitor.”
apud Dad Squarisi, (6 de agosto de 2006 - "Dicas de português - Escrever é...". Correio Braziliense, Caderno C, p. 4.)

“Aquele a quem privardes de tudo não está mais em vosso poder. É outra vez completamente livre.”