“Ainda me lembro de meu pai. Era um homem alto e bonito, com os olhos grandes e um bigode preto. Sempre que estava comigo, era a beijar-me, a contar-me histórias, a fazer-mes as vontades. Tudo dele era para mim. Eu mexia nos seus [livro]]s, sujava as suas roupas, e meu pai não se importava. As vezes, porém, ele entrava em casa calado. Sentava-se numa cadeira ou passeava no corredor com as mãos atrás das costas, e discutia muito com minha mãe. Gritava, dizia tanta coisa, ficava com uma cara de raiva que me fazia medo(…) Coitado de meu pai! Parece que o vejo quando saiu de casa com os soldados, no dia do seu crime.(…) Vim a compreender, com o tempo, porque razão se deixara a levar ao desespero. O amor que tinha pela esposa era o amor de um louco. O seu lugar não era no presídio para onde o levaram. O meu pobre pai, dez anos depois, morria na casa de saúde, liquidado por uma paralisia geral.”
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Menino de Engenho
Tópicos
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1901–1957Citações relacionadas
“Então deixa eu te beijar até você sentir vontade de tirar a roupa.”
Trecho da música Lutar Pelo Que É Meu
Fonte: Memória Globo http://memoriaglobo.globo.com/perfis/talentos/paulo-goulart/paulo-goulart-trechos-da-entrevista-ao-memoria-globo.htm