“Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança; e o Caminho Marítimo da Índia; e as duas Grandes Américas, e que levaste a chatice a estas Terras e que trouxeste de lá mais chatos p'raqui e qu'inda por cima cantaste estes Feitos…” Almada Negreiros (1893–1970) in A Cena do Ódio" De esperança , Caminho
“Há uma canção do cais que diz que desgraçado é o destino das mulheres dos marítimos. Dizem também que o coração dos marítimos é volúvel como o vento, como os barcos que não se fixam em nenhum porto. Mas todo o barco tem o nome do seu porto na proa. Pode andar por outros, pode viajar muitos anos, mas não esquece o seu porto, voltará a ele um dia. Assim o coração dos marinheiros. Nunca eles esquecem aquela mulher que é a deles só.” Jorge Amado (1912–2001) escritor brasileiro Mar morto Coração , De mulheres , De destino
“Sim, sim, sim… Crucificai-me nas navegaçõesE as minhas espáduas gozarão a minha cruz!Atai-me às viagens como a postesE a sensação dos postes entrará pela minha espinhaE eu passarei a senti-los num vasto espasmo passivo!Fazei o que quiserdes de mim, logo que seja nos mares,Sobre conveses, ao som de vagas,Que me rasgueis, mateis, fira-os!O que quero é levar pra MorteUma alma a transbordar de Mar,Ébria a cair das coisas marítimas(…)Ser o meu corpo passivo a mulher-todas-as-mulheresQue foram violadas, mortas, feridas, rasgadas pelos piratas!Ser no meu ser subjugado a fêmea que tem de ser delesE sentir tudo isso -- todas estas coisas duma só vez - pela espinha!” Fernando Pessoa (1888–1935) poeta português Minha Mulher, a Solidão Mar , Viagem , De morte , De mulheres
“Contudo, dois anos após a morte de Marco Polo, em 1329, algo aconteceu nas estepes para onde ele viajara, e no vale do rio Amarelo chinês, que fez com que tudo mudasse.Uma estranha epidemia estava a dizimar vastos números de pessoas. Em 1345, chegara à costa chinesa. Em 1346, estava na Crimeia, onde o pai e o tio de Marco haviam negociado e iniciado a sua viagem épica. No ano seguinte, a Peste Negra, transportada em navios e provavelmente por ratos, propagou-se ao Mediterrâneo. Em Março de 1348, os venezianos morriam à razão de seiscentos por dia. Barcaças seguiam para as ilhas remotas carregadas de cadáveres para serem sepultados. A maioria dos médicos já morrera também. Esse mesmo intercâmbio de mercadorias, gente e histórias que possibilitara a ascensão da impiedosa república marítima estava agora a cobrar vingança. Estima-se que tenham morrido três quintos de todos os venezianos e que cinquenta das suas famílias aristocratas se tenham extinguido para sempre.” Andrew Marr (1959) jornalista britânico História do Mundo Viagem , História , De morte , De pessoas
“Jason bebia uma caneca de cerveja preta, a quarta, a espera de que o temporal passasse. Mas não passava, vinha em ondas sucessivas. Tinha começado a pensar em sair assim mesmo, de qualquer jeito, quando de repente uma figura estranha junto ao balcão chamou a atenção de todos.Era um homem alto, de olhos azuis, cabelo loiro escuro, barba e bigode, bem constituído. Se estivesse sóbrio e usasse um roupa melhor, passaria por um sujeito elegante. Mas estava absolutamente bêbado e a roupa era um farrapo em desalinho. Demonstrara a bebedeira agora, dando um grito repentino que havia assustado todo mundo. Não um grito normal de bêbado: um rugido, um som portentoso e fundo que encheu o local, quase tão sonoro quanto uma nota. E prolongado, prolongado. O loiro de barba inclinou a cabeça para trás e continuou a berrar. Era inacreditável que tanto som pudesse caber num único homem.A clientela observava o berrador com uma certa benevolência. Divertimento dos bons era raro, nesses lados de Londres. O berrador inclinou mais uma vez a cabeça. Berrou mais uma vez – um som comprido, um lamento que não acabava. Era como ouvir uma fera encurralada. E agora viam que ele apertava os olhos como se sentisse dor, e viam que alguma coisa escorria pelo seu rosto.“É o russo”, Jason ouviu dizerem na mesa ao lado. “Fica assim toda vez que quer ir para casa. Acontece a mesma coisa toda semana em que em que ele toca o suficiente para bancar essa bebedeira”.Jason ficou onde estava, observando. Teve pena do russo, que chorava e tinha saudades de casa.Cântico para última viagem, Cap. 3 CSouthhampton, Cais 44, Terminal Marítimo, 9h25” Erik Fosnes Hansen livro Psalm at Journey's End Psalm at Journey's End Viagem , Vinho , Roupas , De homens