“A dor é tão necessária como a morte.”
“Prudencio”, como é que você veio aqui tão longe!” Após muitos anos de morte, era tão imensa a saudade dos vivos, tão premente a necessidade de companhia, tão aterradora a proximidade da outra morte que existia dentro da morte, que Prudêncio Aguilar tinha acabado por amar o pior dos seus inimigos. Fazia muito tempo que o estava procurando. Perguntava por ele aos mortos de Riohacha, aos mortos que chegavam do vale de Upar, aos que chegavam do pantanal e ninguém lhe fornecia a direção, porque Macondo foi um povoado desconhecido para os mortos até que chegou Melquíades e o marcou com um pontinho negro nos disparatados mapas da morte. José Arcadio Buendía conversou com Prudencio Aguilar até o amanhecer. Poucas horas depois, devastado pela vigília, entrou na oficina de Aureliano e perguntou: “Que dia é hoje?” Aureliano respondeu que era terça-feira. “É o que eu pensava”, disse José Arcadio Buendía. “Mas de repente reparei que continua sendo segunda-feira, como ontem. Olha olha as paredes, olha as begônias. Hoje também é segunda-feira.” Acostumado com as suas esquisitices, Aureliano não lhe deu importância. No dia seguinte, quarta-feira, Arcadio Buendía voltou à oficina. “Isto é uma desgraça“, disse. “Olha o ar, ouve o zumbido do sol, igualzinho a anteontem. Hoje também é segunda-feira.”
Cem anos de solidão, Capítulo 4
Tópicos
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1927–2014Citações relacionadas
“Prefiro a morte a escrever uma coisa tão sem estilo.”
Frases
Fonte: Revista Veja, Edição 1 658 - 19/7/2000 http://veja.abril.com.br/190700/vejaessa.html; referindo-se a um texto piegas a ele atribuído que circula na Internet.
“Há uma coisa tão inevitável quanto a morte: a vida.”
Variante: A única coisa tão inevitável quanto a morte é a vida.
“Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto.”