Jorge Luis Borges: Livro

“De todos os instrumentos do homem, o mais surpreendente é, sem dúvida nenhuma, o livro.”

“Publicamos para não passar a vida a corrigir rascunhos. Quer dizer, a gente publica um livro para livrar-se dele.”

“Há aqueles que não podem imaginar o mundo sem pássaros; Há aqueles que não podem imaginar o mundo sem água; Ao que me refere, sou incapaz de imaginar um mundo sem livros.”

“O livro é uma extensão da memória e da imaginação.”

“Obscuramente livros, lâminas, chaves seguem minha sorte.”

“Nós mudamos incessantemente. Mas se pode afirmar também que cada releitura de um livro e cada lembrança dessa releitura renovam o texto.”

“Só se devem ler livros escritos há mais de cem anos.”

“As Coisas

A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a desvanecida
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Servem-nos, como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
Nunca saberão que partimos em um momento.”

“Desvario laborioso e empobrecedor é o de compor vastos livros; o de espraiar por quinhentas páginas uma ideia cuja perfeita exposição oral cabe em poucos minutos.”

“Ninguém pode escrever um livro. Para que seja verdadeiramente um livro, são necessários a aurora e o poente, séculos, armas e o mar que une e separa.”

“O livro é uma das possibilidades de felicidade de que dispomos.”

“O livro é a grande memória dos séculos… se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem.”

“Todas as coisas do mundo conduzem a um encontro ou a um livro.”

“Quando os escritores morrem, eles se transformam nos seus livros. O que, pensando bem, não deixa de ser uma forma interessante de reencarnação.”

“Os meus livros

Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.”