“Talvez o senhor escreva para a posteridade. Mas queira ou não queira, para alguém escreve.
Mas é uma cilada: se consinto, o Autodidacta triunfa e sou imediatamente contornado, reivindicado, ultrapassado, porque o humanismo toma à sua conta e funda na mesma massa todas as atitudes humanas. Que agradável que é às vezes poder conversar assim, ao abandono.
Deitei um olhar à minha volta: móveis leves e soltos, e eu próprio. Era o que existia. O passado não existia. Nem as coisas, nem sequer no meu pensamento. Havia muito tempo que eu tinha compreendido que o meu me tinha escapado. Mas julgava, até então, que se tinha retirado do meu alcance. Para mim o passado era apenas entrada na reforma: era outra maneira de existir, um estado de férias e de inacção, cada acontecimento quando findara o seu papel se arrumava atinadamente, por si próprio, numa caixa e se tornava acontecimento honorário: tal é a dificuldade que se tem em imaginar o nada. Agora compreendia: a coisas são inteiramente o que parecem, e por trás delas… não há nada. Quando uma pessoa quer compreender uma coisa coloca-se diante dela, sem auxílio. De nada serviria todo o passado do mundo.
Acho que não temos de ir buscar tão longe o sentido da vida”

Última atualização 8 de Julho de 2019. História
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Filósofo existencialista, escritor, dramaturgo, roteirista,… 1905–1980

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“Sou todas essa coisas, embora o não queira, no fundo confuso da minha sensibilidade fatal.”

Fernando Pessoa (1888–1935) poeta português

"Autobiografia sem Factos". (Assírio & Alvim, Lisboa, 2006, p. 58)
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“Como queira, senhor — admitiu — desde que me permita vê-lo.”

Gabriel García Márquez (1927–2014)

Cem anos de solidão, Capítulo 7

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