“E porque é que só sei gostar, perguntou-se examinando as bolhas de gás pegadas à parede do vidro, porque é que só sei dizer que gosto através dos rodriguinhos de perifrases e metáforas e imagens, da preocupação dealindar, de pôr franjas de crochet nos sentimentos, de verter a exastação e a angustia na cadencia pindérica do fadomenor, alma a gingar, piegas, à Correia de Oliveira de samarra, se tudo isto é limpo, claro, directo, sem precisão de bonitezas, enxuto como uma Giacometti numa sala vazia e tão simplesmente eloquente como ele: depor palavras aos pés de uma escultura equivale às flores inuteis que se entregam aos mortos ou à dança da chuva em torno de um poço cheio: chiça para mim e para o romantismo meloso que me corre nas veias, minha eterna dificuldade em proferir palavras secas e exactas como pedras”
Memoria de elefante
Tópicos
parede , palavra , chuva , torno , pedra , dança , vazio , dificuldade , sala , alma , morte , morte , flor , vidro , gás , preocupação , imagem , sentimento , gosto , pôr , seca , dizer , metáfora , claro , poços , bolha , directo , cheia , romantismo , angústia , escultura , precisão , chica , veia , pegada , correio , seisAntónio Lobo Antunes 78
1942Citações relacionadas

Gilberto Gil, músico e ministro da Cultura, em entrevista na qual fala de carreira na música e na política
Fonte: Revista ISTOÉ Gente http://www.terra.com.br/istoegente/278/frases/index.htm, edição 278 - 06/12/2004

“Não sei que grande tristeza
Me fez só gostar de ti
Quando já tinha a certeza
De te amar porque te vi.”
Poems of Fernando Pessoa