“Quantas vezes os tenho ouvido dizer a mesma frase que simboliza todo o absurdo, todo o nada, toda a insciência falada das suas vidas. É aquela frase que usam de qualquer prazer material: «é o que a gente leva desta vida»… Leva onde? leva para onde? leva para quê? Seria triste despertá-los da sombra com uma pergunta como esta… Fala assim um materialista, porque todo o homem que fala assim é, ainda que subconscientemente, materialista. O que é que ele pensa levar da vida, e de que maneira? Para onde leva as costoletas de porco e o vinho tinto e a rapariga casual? Para que céu em que não crê? Para que terra para onde não leva senão a podridão que toda a sua vida foi de latente? Não conheço frase mais trágica nem mais plenamente reveladora da humanidade humana. Assim diriam as plantas se soubessem conhecer que gozam do sol. Assim diriam dos seus prazeres sonâmbulos os bichos inferiores ao homem na expressão de si mesmos.”
The Book of Disquiet
Tópicos
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poeta português 1888–1935Citações relacionadas

“Nada se leva. A não ser a vida levada que a gente leva.”

“A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio.”

“Para onde quer que fores, vai todo, leva junto teu coração.”

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL195211-7084,00.html