Anne Rice: Coisa

Explore frases interessantes em coisa.
Anne Rice: 183   citações 32   Curtidas

“Era nisso que ele acreditava, em que sempre acreditou quando eu falava e falava sobre a bondade? Estaria ele fazendo o violino dizer isso? Estaria criando deliberadamente aquelas notas longas, puras e transparentes para dizer que a beleza não significava nada porque vinha do desespero dentro dele e que afinal não tinha nada a ver com o desespero, porque o desespero não era belo e então a beleza não passava de uma horrível ironia? A beleza não era a traição que ele imaginava ser, era mais uma terra desconhecida na qual se poderiam cometer mil erros fatais, um paraíso selvagem e indiferente sem indicações claras do bem e do mal. Apesar de todos os refinamentos da civilização que conspiraram para produzir a arte — a estonteante perfeição do quarteto de cordas ou o exuberante esplendor das telas de Fragonard — a beleza era selvagem. Era tão perigosa e sem lei quanto a terra fora milênios antes que o homem tivesse elaborado um único pensamento coerente ou escrevesse códigos de conduta em tábuas de argila. A beleza era um Jardim Selvagem. Assim, por que iria feri-lo o fato de mesmo a música mais desesperadora estar cheia de beleza? Por que isso iria magoá-lo, torná-lo cínico, triste e desconfiado? O bem e o mal são conceitos criados pelo homem. E o homem é melhor, de fato, do que o Jardim Selvagem. Mas talvez bem no íntimo, Nicki sempre tenha sonhado com uma harmonia entre todas as coisas, que eu sempre soube ser impossível. Nicki não sonhara com a bondade, mas sim com a justiça.”

O Vampiro Lestat

“Percebi enquanto falava em voz alta que, mesmo quando morrêssemos, era provável que não descobríssemos a resposta de por que estivemos vivos. Mesmo o ateu confesso provavelmente pensa que na morte obterá alguma resposta. Quero dizer, Deus estará lá ou não haverá coisa alguma.”

Mas é apenas isso — eu disse —, nós não fazemos nenhuma descoberta na hora da morte! Apenas paramos! Passamos para a não-existência sem jamais saber de coisa alguma. Eu via o universo, tinha uma visão do sol, dos planetas, das estrelas, da noite negra continuando para sempre. E comecei a rir.
Você percebe isso? Jamais saberemos por que diabos tudo isso aconteceu, nem mesmo quando acaba! — berrei para Nicolas que estava recostado na cama, sacudindo a cabeça e bebendo o vinho de um garrafão. — Nós vamos morrer e nem vamos saber. Jamais saberemos, e toda essa falta de sentido vai continuar para sempre. E já não seremos mais testemunhas disso. Nem sequer temos o pequeno poder de dar sentido a isso em nossas mentes. Nós apenas vamos desaparecer, mortos, mortos, mortos, sem nem ao menos saber".
O Vampiro Lestat

“Fui presenteado com a vida eterna, com uma percepção aguçada e com a necessidade de matar – expliquei rapidamente. – Porque o vampiro que me criou desejava a casa que eu possuía e meu dinheiro. Entende uma coisa destas? – perguntei.”

Ah, mas há muita mais por trás do que digo. Fui descobrindo tudo tão devagar, de modo tão incompleto! Vê, é como se você abrisse uma porta para mim, e a luz escapasse por esta porta que eu tento agarrar, encarar, para entrar na região que diz existir além dela! Quando, na verdade, não acredito nela! O vampiro que me criou representa para mim o verdadeiro mal: era tão melancólico, tão prosaico, tão estúpido, tão inevitável e eternamente decepcionante quanto eu acreditava que devia ser o mal! Sei disto agora. Mas você, você é algo que escapa inteiramente desta concepção! Abra a porta para mim, escancare-a. Fale-me sobre o palácio de Veneza, sobre seu amor condenado. Quero compreendê-lo!".
Entrevista Com o Vampiro