“Deixo Sísifo no sopé da montanha! Encontramos sempre o nosso fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também julga que tudo está bem. Esse universo enfim sem dono não lhe parece estéril nem fútil. Cada grão dessa pedra, cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz.” Albert Camus (1913–1960) O mito de sísifo (1942) De idade , De deus , De mundo , Noite
“Sim, a minha pobre alma anda morta de sono, e não a deixam dormir - tem frio, e não sei aquecer! Endureceu-me toda! secou, ancilou-se-me; de forma que movê-la - isto é: pensar - me faz hoje sofrer terríveis dores. E quanto mais a alma me endurece, mais eu tenho ânsia de pensar! Um turbilhão de idéias - loucas idéias! - me silva a desconjuntá-la, a arrepanhá-la, a rasgá-la, num martírio alucinate! Até que um dia - óh! é fatal - ela se me partirá voará em estilhaços… A minha pobre alma! A minha pobre alma!…” Mário de Sá-Carneiro (1890–1916) De dor , De morte , Idéia , Alma
“A necessidade é um obstáculo indestrutível; tudo o que se lança sobre ela estilhaça-se.” Gustave Flaubert (1821–1880)
“O espanto certamente foi, no passado, aquele espelho, de que tanto nos agrada falar, que trazia os fenômenos para uma superfície mais lisa e tranqüila. Hoje, esse espelho está despedaçado, e os estilhaços do espanto tornaram-se pequenos. Porém, mesmo no mais minúsculo estilhaço, já não se reflete apenas um fenômeno isolado: impiedosamente, este arrasta consigo o seu reverso - o que quer que você veja, e por menos que veja, transcende a si próprio a partir do momento em que é visto.” Elias Canetti (1905–1994) The Conscience of Words Passado
“Resta-nos esclarecer a parte que nesse golfo fantástico cabe ao imaginário indireto, ou seja, o conjunto de imagens que a cultura nos fornece, seja ela cultura de massa ou outra forma de tradição. Esta questão suscita de imediato uma outra: que futuro estará reservado à imaginação individual nessa que se convencionou chamar a "civilização da imagem"? O poder de evocar imagens [i]in absentia[/i] continuará a desenvolver-se numa humanidade cada vez mais inundada pelo dilúvio das imagens pré-fabricadas? Antigamente a memória visiva de um individuo estava limitada ao patrimônio de suas experiências diretas e a um reduzido repertório de imagens refletidas pela cultura; a possibilidade de dar forma a mitos pessoais nascia do modo pelo qual os fragmentos dessa memória se combinavam entre si em abordagens inesperadas e sugestivas. Hoje somos bombardeados por uma tal quantidade de imagens a ponto de não podermos distinguir mais a experiência direta daquilo que vimos há poucos segundos na televisão. Em nossa memória se depositam, por estratos sucessivos, mil estilhaços de imagens, semelhantes a um depósito de lixo, onde é cada vez menos provável que uma delas adquira relevo” Italo Calvino (1923–1985) Futuro , Memória , Questão , Imaginação
“O desafio é quanto pode durar o teu sorriso / Contra toda a tua escória, as tuas derrotas, / No fragor dos estilhaços, algum brilho.” Mariana Ianelli (1979) Desafio, in "O Amor e Depois", (Editora Iluminuras, 2012) Crônicas, Poemas De sorriso