“Ora se enunciará o que deveria ser fingindo-se acreditar ser precisamente o que é. Nisso consiste a ironia. Ora, pelo contrário, se descreverá cada vez mais meticulosamente o que é, fingindo-se crer que assim é que as coisas deveriam ser. É o caso do humor. O humor, assim definido, é o inverso da
ironia. Ambos são formas da sátira, mas a ironia é de natureza retórica, ao passo que o humor tem algo de mais científico. Acentua-se a ironia deixando-se arrastar cada vez mais alto pela idéia do bem que deveria ser. Por isso a ironia pode aquecer-se interiormente até se tornar, de algum modo, eloqüência sob pressão. Acentua-se o humor, pelo contrário, descendo-se cada vez mais baixo no interior do mal que é, para lhe notar as particularidades com mais fria indiferença. Vários autores, entre os quais Jean Paul, observaram que o humor gosta dos termos concretos, dos pormenores técnicos,, dos fatos rigorosos. Se nossa análise estiver certa, não se trata de um feitio casual do humor, mas nisso consiste a sua própria essência. O humorista é no caso um moralista disfarçado em cientista, algo como um anatomista que só faça dissecação para nos
desagradar; e o humor, no sentido restrito que damos à palavra, é de fato uma transposição do moral em científico.”
Laughter: An Essay on the Meaning of the Comic
Tópicos
caso , análise , passo , sentido , autor , forma , natureza , palavra , técnico , pressão , certo , ideia , cientista , interior , modo , contrário , próprio , termo , vez , coisa , bem , gosto , ser , transposição , essência , trato , baixa , ora , alto , eloqüência , pormenor , moral , sátira , humor , feitio , algum , ironia , faca , retórica , concreto , humorista , particularidade , cada , indiferença , fatoHenri Bergson 48
1859–1941Citações relacionadas

“A Ironia é uma figura de retórica cuja significação entendida é contrária à das palavras ditas”
"eironeia, quae diversum ei quo dick intel- lectum petit. [...] in utroque enim contrarium ei quod dicitur intelligendum est."
citado em "The art of living: Socratic reflections from Plato to Foucault" - página 207, Aexander Nehamas - University of California Press, 1998, ISBN 0520211731, 9780520211735 - 283 páginas

“É pela ironia que começa a liberdade.”

“A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento.”