“Terrível alternância da pergunta: o que há de novo? e da resposta: nada a assinalar! Se o remorso, segundo Baudelaire, é impotência para desfazer, pelo contrário, a banalidade é a incapacidade para fazer, para inaugurar o novo, para abrir uma brecha na massa dos instantes todos iguais. A este mundo caseiro não falta no entanto sedução para quem deseje deixar-se viver, ser levado como uma barca por um rio abaixo, delegar nas datas do calendário, à passagem das estações, o cuidado de nos dirigir. Fruicção sedativa desta rotina: com ela tudo é evidente, reveste de necessidade o que à primeira vista era gratuito. Nela funciona-se em regime quase automático. A agonia que a alguns provocam os domingos ou as férias - esse grande vazio que é necessário preencher - nasce dessa ruptura momentânea de uma regra que enfada mais do que tranquiliza. Para a maioria, portanto, a maldição do quotidiano é de nos acompanhar 24 sobre 24 horas quando gostaríamos de o desmontar a nosso bel-prazer, de lhe dedicar algumas migalhas, enfim, de o colocar numa posição crítica. «Oh vida, amo-te mas não todos os dias» (Cerroli), admirável frase que tudo resume.”
Perpetual Euphoria: On the Duty to Be Happy
Tópicos
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“É a eterna juventude deste mundo/ o fato de nascer de novo em cada novo ser.”
Das ist die ewige Jugend aller Welt, daß sie mit jedem neu geboren wird.
"Man muss aus einem Licht fort in das andre gehn: ein Spruchbuch" - Página 12, de Christian Morgenstern, Margareta Morgenstern - Publicado por R. Piper, 1950, edition 11 - 78 páginas