Padre Antônio Vieira: Amor

“Não se há-de estar tão casado com o amor-próprio, que todos os partos do entendimento, por serem filhos próprios, pareçam formosos.”

“O amor depois da perda vê-se na dor; antes dela, no receio.”

“O amor pesa-se na balança da paciência: padecer menos, é amar menos; padecer mais, é amar mais.”

“Amor e ódio são os dois mais poderosos afectos da vontade humana.”

“Em todas as outras coisas o deixar de ser é sinal de que já foram; no amor o deixar de ser é sinal de nunca ter sido.”

“O amor perfeito, e que só merece o nome de amor, vive imortal sobre a esfera da mudança, e não chegam lá as jurisdições do tempo.”

“Os modos de guerrear são tantos, quantos tem inventado o amor para a defesa própria, e o ódio para a ruína do inimigo.”

“Não há amor que mais facilmente perdoe, e mais benignamente interprete e dissimule defeitos, que o amor de pai.”

“Quem quiser apurar os quilates do amor, toque o amor do que se ama com o amor do que se deixa, e logo conhecerá quão fino é.”

“O amor acredita-se no supérfluo: quem ama pouco, contenta-se com o que basta: quem ama muito, contenta-se com o que sobeja; e quem ama mais que muito, nem com o que basta nem com o que sobeja se contenta, ainda sobe mais, ainda passa mais adiante.”

“A dor não tem juízo, e nenhuma é maior que a do amor ofendido.”

“O amor em matéria de ausência, se é sofrido, não é grande; se não é impaciente, não é amor.”

“Grande miséria é que não bastem os serviços, o amor e a verdade para conservar a graça dos príncipes e que baste a calúnia para se perder.”

“A propriedade da quantidade é poder-se sempre dividir e a propriedade do amor é querer-se sempre dar todo.”

“E assim como não há mármore nem bronze tão duro que, ferido do raio do sol, não responda ao mesmo sol com a reflexão do seu raio, assim não há coração tão de mármore na dureza, e tão de bronze na resistência, que, prevenido no amor, o não redobre e corresponda com outro.”

“O amor fino não busca causa nem fruto. E não pode haver mais fino nem mais provado amor que aquele que entrega o coração e fecha os olhos. Entregar o coração com os olhos abertos é querer a vista por prémio do amor; entregar o coração com os olhos fechados é não querer no amor nem o prémio da vista.”

“Quando o amor deixa de ser credor, só então é pobre. Finalmente, ser tão grande o amor que se não possa pagar, é a maior glória de quem ama…”

“A cegueira do juízo e amor-próprio é muito maior que a cegueira dos olhos.”

“Em todos os parentes o amor é acidente que se pode mudar; no amigo fiel é essência, e por isso imutável.”