Camilo Castelo Branco: Homem

“O homem é um verme. Deus não tem nada com este grão de areia, que lançou no oceano, a turbilhões, com a ponta de um pé.”

“O homem traído uma vez pode ouvir dos lábios da mulher um juramento de alma, animado com a santa inocência de um anjo, mas nunca mais lhe franqueará o coração, onde goteja sangue, uma chaga incurável.”

“Só há um ridículo no planeta - o homem que não tem dinheiro.”

“O amor, que vem procurado como sensação necessária à felicidade da vida, perde dois terços da sua embriagante doçura; porém, o amor inesperado, impetuoso e fulminante, esse é um abrir-se o céu a verter no peito do homem todas as delícias puras que não correm perigos de empestarem-se em contacto com as da terra.”

“É falso o amor que leva o homem à indignidade.”

“A mulher quando ama, tem heroísmos e abnegações de que o homem - o ser mais egoísta do reino animal - é incapaz.”

“Pode-se morrer mais do que uma vez. A sepultura é que é só uma para cada homem.”

“Em boa paz com teólogos e filósofos, a mim se me afigura que o homem é um composto de grandeza e pequenez, uma dualidade de gigante e de pigmeu.”

“O último amor que desampara o homem é o combinado com o orgulho.”

“Há desgraças inconsoláveis, se outra vida não preluz ao homem que, inventariando as consolações deste mundo, apenas uma lhe vê sorrir: a morte.”

“Os homens que não descaem ou fingem não descair da mocidade tão depressa, assombram-se da mudança que dez anos fazem no rosto e nas almas das mulheres suas contemporâneas.”

“A torpeza, a ignomínia, a podridão das entranhas vivas, o nascer ou morrer infamado ou infame é só do homem.”

“O feudo mais pesado que uma mulher faladora pode impor a um homem, é a obrigação de ouvi-la.”

“Homem que pensa, que estuda, que trabalha debaixo da influência tenaz de uma ideia, que cisma na imortalidade que pode dar-lhe a ciência, ou no dinheiro que pode dar-lhe um livro, tal homem só serve para marido depois que o reumatismo lhe faz ver o celibato à luz da higiene.”

“Todo o homem tem uma porção de inépcia que há-de sair em prosa ou verso, em palavras ou obras, como o carnejão de um furúnculo. Quer queira quer não, um dia a válvula salta e o pus repuxa.”

“A maldade é congénere do homem.”

“No homem gasto, vão-se as ilusões e fica a experiência.”

“O homem que ama é um tolo sublime.”

“A sociedade, a família e o homem expiam incessantemente a culpa do homem, da família e da sociedade.”