“Os animais foramimperfeitos,compridos de rabo, tristesde cabeça.Pouco a pouco foram secompondo,fazendo-se paisagem,adquirindo manchas, graça, voo.O gatosó gatoapareceu completoe orgulhosonasceu completamente terminado,caminha sozinho e sabe o que quer.O homem quer ser peixe e pássaro,a serpente queria ter asas,o cachorro é um leão desorientado,o engenheiro quer ser poeta,a mosca estuda para ser andorinha,o poeta tenta imitar a mosca,mas o gato só quer ser gatoe todo gato é gatodo bigode até o rabo,do pressentimento ao rato vivo,da noite até seus olhos de ouro.Não existe unidadecomo ele,nem têm a lua nem a flortal contextura:é uma coisa sócomo o sol ou o topázio,e a elástica linhade seu contornofirme e sutil é comoa linha da proa de uma nave.Seus olhos amarelosdeixaram uma sóranhurapara pôr as moedas da noite.Ó pequeno imperador sem orbe,conquistador sem pátria,mínimo tigre de salão, nupcialsultão do céudas telhas eróticas,o vento do amorna intempériereclamasquando passase pousasquatro pés delicadosno solo,farejando,desconfiadode tudo que é terrestre,porque tudoé imundopara o imaculado pé do gato.Ó fera independenteda casa, arrogantevestígio da noite,preguiçoso,ginástico,e alheio,profundíssimo gato,polícia secretadas moradas,talvez não sejas mistério,todo mundo sabe-te e pertencesao habitante menos misterioso,talvez todos o creiam,todos se creiam donos,proprietários, tiosde gatos, companheiros,colegas,discípulos ou amigosde seu gato.Eu não.Eu não concordo.Eu não conheço o gato.Tudo sei, a vida e seu arquipélago,o mar e a cidade incalculável,a botânica,o gineceu com seus extravios,o mais e o menos da matemática,os funis vilcânicos do mundo,a casca irreal do crocodilo,a bondade ignorada do bombeiro, o atavismo azul do sacerdote,mas não posso decifrar um gato.Minha razão resvalou em sua indiferença,seus olhos têm números de ouro.” Pablo Neruda (1904–1973) Escritor Navegaciones y Regresos Noite , Estude , Indiferença , Animais
“O que torna os maus poetas ainda piores é o facto de apenas lerem poetas (tal como os maus filósofos apenas lêem filósofos), quando eles tirariam um proveito bem maior de um livro de botânica ou de geologia. Só nos enriquecemos se frequentarmos disciplinas afastadas da nossa. Isto só é verdade, claro está, nos domínios em que grassa o eu.” Emil Mihai Cioran (1911–1995) De livros , De verdade
“No ano passado, quando estava atravessando por uma crise, meu tio Benn (B. Crader, o famoso botânico) mostrou-me um desenho humorístico de Charles Addams.” Saul Bellow (1915–2005) escritor canadense A Mágoa Mata Mais Passado
“RECOMENDAÇÃO Neste botânico Setembro, que pelo menos você plante com eufórica emoção ecológica num pote de plástico uma flor de retórica.” Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) Poeta brasileiro Flores
“Depressão A Depressão aparece como algo, Que se andar um pouco maisPelos Parques Tingui ou Tanguá,Você subirá a qualquer montanha.Basta um primeiro passo para a frente,Que desatolamos os pés presos da lama,Pois tudo é transponível com confiança,Saímos assim de qualquer fundo de poço.Um novo horizonte fica posto a nos inspirar. No florir de buquês brancos, amarelos e roxos,Dos Ipês jubilosos coloridos dançando ao ventoQue encantam nossos olhos nestes momentos.Envolto por tanta natureza que amo,No Parque Barigui ou Jardim Botânico Caminhadas que curam qualquer dorPelo desfilar de tanta essência de vida A se revigorar como desabrochar de flor.Jorge Jacinto da Silva Jr.” Jorge Jacinto da Silva Junior Flores , De vida , De dor , Montanha