“O único referente que ainda funciona é o da maioria silenciosa. Todos os sistemas atuais funcionam sobre essa entidade nebulosa, sobre essa substância flutuante cuja existência não é mais social mas estatística, e cujo único modo de aparição é o da sondagem. Simulação no horizonte do social, ou melhor, no horizonte em que o social já desapareceu.O fato de a maioria silenciosa (ou as massas) ser um referente imaginário não quer dizer que ela não existe. Isso quer dizer que não há mais representação possível. As massas não são mais um referente porque não têm mais natureza representativa. Elas não se expressam, são sondadas. Elas não se refletem, são testadas.(…)Bombardeadas de estímulos, de mensagens e de testes, as massas não são mais do que um jazigo opaco, cego, como os amontoados de gases estelares que só são conhecidos através da análise do seu espectro luminoso - espectro de radiações equivalente às estatísticas e às sondagens. Mais exatamente: não é mais possível se tratar de expressão ou de representação, mas somente de simulação de um social para sempre inexprimível e inexprimido. Esse é o sentido do seu silêncio. Mas esse silêncio é paradoxal - não é um silêncio que fala, é um silêncio que proíbe que se fale em seu nome. E, nesse sentido, longe de ser uma forma de alienação, é uma arma absoluta.Ninguém pode dizer que representa a maioria silenciosa, e esta é sua vingança. As massas não são mais uma instância à qual se possa referir como outrora se referia à classe ou ao povo. Isoladas em seu silêncio, não são mais sujeito (sobretudo, não da história), elas não podem, portanto, ser faladas, articuladas, representadas, nem passar pelo “estágio do espelho” político e pelo ciclo das identificações imaginárias. Percebe-se que poder resulta disso: não sendo sujeito, elas não podem ser alienadas - nem em sua própria linguagem (elas não têm uma), nem em alguma outra que pretendesse falar por elas. Fim das esperanças revolucionárias. Porque estas sempre especularam sobre a possibilidade de as massas, como da classe proletária, se negarem enquanto tais. Mas a massa não é um lugar de negatividade nem de explosão, é um lugar de absorção e de implosão.” Jean Baudrillard livro In the Shadow of the Silent Majorities In the Shadow of the Silent Majorities Sentido , Natureza , História , De esperança
“A Cultura, conjunto das formas artificiais, pessoais e próprias da vida, desenvolve-se até se transformar numa jaula de barras estreitas para a alma indomável. (…) A desejada fuga da absorção pelo grande número assume várias formas - o domínio desse grande número, a fuga dele ou o desprezo. A ideia de personalidade, em seu sombrio despontar, é um protesto contra o homem da massa. E a tensão entre ambos cresce cada vez mais até um trágico final.O ódio, o mais legítimo de todos os sentimentos raciais do animal de rapina, pressupõe o respeito pelo adversário. Há nele um reconhecimento de igualdade em categoria espiritual. Mas o animal de rapina despreza os seres que estão por baixo. E os seres que estão por baixo são invejosos. Todos os contos, todos os mitos divinos, todas as legendas heróicas estão cheios desses motivos. A águia odeia apenas os seus iguais, não inveja ninguém, despreza a muitos, ou melhor, a todos.O desprezo olha das alturas para baixo. A inveja espreita de baixo para cima. Esses são os dois sentimentos universais históricos da humanidade organizada em Estado e classes. Seus exemplares pacíficos sacodem, impotentes, as grades da jaula em que estão presos todos juntos. Desse fato e de suas consequências nada os pode livrar. Assim foi e assim há de ser, ou então nada no mundo poderá ser. Esse fato do respeito e do desprezo tem um sentido. Alterá-lo é impossível. O destino do homem está seguindo o seu curso e tem de ser cumprido.” Oswald Spengler (1880–1936) Sentido , Animais , Personalidade , De vida
Esta tradução está aguardando revisão. Está correcto? “Através do simbolismo baseado na matança de animais, encontramos imagens politicamente carregadas de absorção, controle, domínio e necessidade de violência. Essa mensagem de domínio masculino é transmitida através do consumo de carne - tanto em simbolismo quanto em realidade.” Carol J. Adams (1951) Animais , Realidade
“As classes burguesas cerram os olhos diante das duas realidades ou lançam-se ao combate para que elas se tornem possíveis, pois lhes cabe esse triste papel de associar a anulação da revolução nacional à industrialização maciça, à aceleração do desenvolvimento capitalista e à absorção das empresas multinacionais. O intelectual divergente, considere-se ou não parte da burguesia, tem de seguir outro caminho. Para explicar-se, ele precisa começar pela verdade – não uma parte da verdade, mas toda a verdade. Todavia, fazer isso não é o mesmo que procurar uma justificação. Ao contrario, é repor o intelectual no circuito das relações e dos conflitos de classes, para poder descobrir como e por que numa sociedade capitalista dependente mesmo a intelligentsia crítica e militante é importante, enquanto as forças de transformação ou de destruição dessa sociedade não chegam constituir-se e a operar revolucionariamente, engendrando ou uma ordem burguesa efetivamente democrática ou uma transição para o socialismo. Por sua vez, de nada adiantaria uma retórica ultra-radical, de condenação e expiação: o intelectual não cria o mundo no qual vive. Ele já faz muito quando consegue ajudar a compreendê-lo e a explicá-lo, como ponto de partida para a sua alteração real”.” Florestan Fernandes (1920–1995) De idade , De mundo , De verdade , De arte
“A energia parece-nos diabólica, porque toda nossa cultura tende a refreá-la para fins ulteriores: a criança deve ser civilizada; o que isto significa realmente é que ela deve ser destruída. Desde o começo ela é desencorajada de fazer barulho e exercitar seus pulmões em qualquer ocasião ou lugar em que possa incomodar os adultos. O novo bebê tem enorme curiosidade, e uma igual faculdade de absorver informações, mas ele a dispende toda em ambientes especialmente construídos, dando importância a sons em surdina, cores insípidas, e à figura maciça e dominante da mãe. A intensa absorção do bebê num ser humano, cuja familiaridade torna-se gradualmente indispensável para ele, é um fator necessário no desenvolvimento do caráter que é considerado normal em nossa sociedade. O preconceito contra a substituição da mãe onipotente por qualquer outra pessoa ou numerosas pessoas é na verdade muito forte.” Germaine Greer (1939) Bebê (pág. 63) A Mulher Eunuco (1970) De pessoas , De idade , De verdade , bebê