“Como se conseguia uma indulgência? Orações e boas acções podiam valer-nos uma. Viagens para ver e tocar relíquias dos santos, também – e isso proporcionava ainda um proveitoso rendimento a qualquer igreja ou cidade que possuísse as relíquias (a própria Wittenberg tinha uma colecção de nível internacional de fragmentos de madeira, ossos, espinhos e cabelo). Porém, para além das orações, das boas acções e das relíquias, havia um caminho mais fiável: dinheiro vivo. Desde há muito que os sacerdotes sugeriam que os destinatários de indulgências poderiam querer fazer «donativos caridosos», supostamente à laia de agradecimento.
Com o tempo, tudo se tornou uma simples transacção a dinheiro. Como vigário de Cristo na Terra, o papa podia pura e simplesmente vender indulgências. Tornaram-se uma fonte de rendimento para ele, em moedas com diferentes denominações. Não só podia vendê-las para fornecer ao comprador isenção de tempo no Purgatório, como podia também vendê-las aos pais já falecidos do comprador, que podiam estar a suplicar aos filhos que as moedas fossem pagas. Eclesiásticos de espírito reformista de Itália e da Holanda, de França e da Suíça, já antes se haviam pronunciado contra a absurda comercialização de indulgências: o golpe de Lutero seria genericamente mais irado.”
Andrew Marr
(1959) jornalista britânico