“Às vezes o cavaleiro da armadura brilhante, era apenas um imbecil enrolado em papel alumínio. Desapega!” Tati Bernardi (1979)
“É assim que minha imaginação compõe agora a cena. Se demoro nessa descrição, é porque escrevo em circunstâncias diversas! Trabalho numa mesa rústica, estreita, adquirida com certa dificuldade, por não fazer parte do mobiliário padrão do hotel. O quarto fica no anexo do prédio. A janela é de alumínio, de tamanho e forma padronizados; a porta lisa, também padronizada quanto ao tamanho e a forma, é feita de um material tão leve que já está empenada e, a menos que se passe o trinco, fica o tempo todo abrindo e fechando lentamente. O rodapé encolheu, como todo o madeiramento. Nada aqui foi feito com amor, nem sequer com habilidade; conseqüentemente, não há nada que dê prazer à vista.” Vidiadhar Surajprasad Naipaul (1932–2018) Os Mímicos De prazer , De idade , De amor , De arte
“Depois de Aqcha, a cor da paisagem mudou de chumbo para alumínio, tornou-se pálida e mortiça, como se há milhares e milhares de anos o sol lhe sugasse a alegria. Estávamos agora na planície de Balkh, que se diz ser a cidade mais antiga do mundo. Os maciços de árvores verdes, os tufos de erva áspera e cortante em forma de repuxo, quase pareciam negros, pois destacavam-se sobre o fundo daquela tonalidade mortal. De vez em quando, avistávamos um campo de cevada. O cereal estava maduro, e turcomanos em tronco nu colhiam-no com foices. Mas não era castanho nem dourado, nem lembrava Ceres, nem abundância. Parecia ter embranquecido prematuramente, como o cabelo de um louco, perdendo tudo o que nele fora nutritivo. E destas extensas mortalhas, primeiro a norte e depois a sul da estrada, elevavam-se as formas branco-acizentadas e carcomidas de uma arquitectura antiga, montículos, sulcados e esmaecidos pela chuva e pelo sol, mais estafados do que qualquer obra humana por mim vista: uma pirâmide torta, uma plataforma afunilada, um maciço de ameias, um animal agachado, com que os gregos de Báctria estavam familiarizados, e Marco Polo depois deles. Já deviam ter desaparecido. Mas foi o próprio impacto do sol, que, congregando a pertinácia daquele barro de cinza, permitiu conservar uma centelha inextinguível de forma, a centelha que não se encontra numa fortificação romana, nem numa mamoa coberta de erva, a centelha que continua a tremeluzir num mundo mais luminoso do que ela própria, cansada como só um suicida frustrado consegue ser.” Robert Byron The Road to Oxiana Alegria , Árvore , De mundo , Cor