“De todos os animais da Criação, o homem é o único que bebe sem ter sede, come sem ter fome e fala sem ter nada que dizer.” John Steinbeck De fome , De homens , bebê , Animais
“Os pequenos fazendeiros observam como as dívidas sobem insensivelmente, como o crescer da maré. Cuidaram das árvores sem vender a colheita, podaram e enxertaram e não puderam colher as frutas.Este pequeno pomar, para o ano que vem, pertencerá a uma grande companhia, pois o proprietário será sufocado por dívidas.Este parreiral passará a ser propriedade do banco. Apenas os grandes proprietários podem subsistir, visto que também possuem fábricas de conservas.A podridão alastra por todo o Estado e o cheiro doce torna-se uma grande preocupação nos campos. E o malogro paira sobre o Estado como um grande desgosto.As raízes das vides e das árvores têm de ser destruídas, para se poderem manter os preços elevados. É isto o mais triste, o mais amargo de tudo. Carradas de laranjas são atiradas para o chão. O pessoal vinha de milhas de distâncias para buscar as frutas, mas agora não lhes é permitido fazê-lo. Não iam comprar laranjas a vinte cents a. dúzia, quando bastava pular do carro e apanhá-las do chão. Homens armados de mangueiras derramam querosene por cima das laranjas e enfurecem-se contra o crime, contra o crime daquela gente que veio à procura das frutas. Um milhão de criaturas com fome, de criaturas que precisam de frutas… e o querosene derramado sobre as faldas das montanhas douradas.O cheiro da podridão enche o país.Queimam café como combustível de navios. Queimam o milho para aquecer; o milho dá um lume excelente. Atiram batatas aos rios, colocando guardas ao longo das margens, para evitar que o povo faminto intente pescá-las. Abatem porcos, enterram-nos e deixam a putrescência penetrar na terra.Há nisto tudo um crime, um crime que ultrapassa o entendimento humano. Há nisto uma tristeza, uma tristeza que o pranto não consegue simbolizar. Há um malogro que opõe barreiras a todos os nossos êxitos; à terra fértil, às filas rectas de árvores, aos troncos vigorosos e às frutas maduras. Crianças atingidas de pelagra têm de morrer porque a laranja não pode deixar de proporcionar lucros. Os médicos legistas devem declarar nas certidões de óbito; "Morte por inanição", porque a comida deve apodrecer, deve, por força, apodrecer.O povo vem com redes para pescar as batatas no rio, e os guardas impedem-nos. Os homens vêm nos carros ruidosos apanhar as laranjas caídas no chão, mas as laranjas estão untadas de querosene. E ficam imóveis, vendo as batatas passarem flutuando; ouvem os gritos dos porcos abatidos num fosso e cobertos de cal viva; contemplam as montanhas de laranja, rolando num lodaçal putrefacto. Nos olhos dos homens reflecte-se o malogro. Nos olhos dos esfaimados cresce a ira. Na alma do povo, as vinhas da ira crescem e espraiam-se pesadamente, pesadamente amadurecendo para a vindima.” John Steinbeck Café , Vinho , Carros , Árvore
“A luz do crepúsculo fazia brilhar a terra vermelha, de maneira que as suas dimensões se aprofundavam.Uma pedra, um poste, uma construção adquiriam mais profundidade e mais consistência então do que à luz do dia; e todos esses objetos se tornavam estranhamente mais individuais: um poste era mais essencialmente um poste; elevava-se com mais firmeza da terra e destacava-se melhor do campo de milho que lhe servia de fundo.E as plantas adquiriam mais individualidade. Não eram apenas um conjunto de cereais, e o salgueiro desfolhado era mais ele próprio, bem diferente dos outros salgueiros. A terra também contribuía com uma parte de luz para a tarde. A frontaria da casa, parda, sem pintura, voltada a oeste, brilhava palidamente com um fulgor semelhante ao da lua.O caminhão cinzento e empoeirado, imóvel no terreiro, destacava-se magicamente àquela luz, na perspectiva exagerada de um estereoscópio.” John Steinbeck livro As Vinhas da Ira The Grapes of Wrath Casa , Pintura
Esta tradução está aguardando revisão. Está correcto? “Talvez todos desta porcaria de mundo estejam com medo do outro” John Steinbeck De mundo , De medo