Frases sobre senhorio

Uma coleção de frases e citações sobre o tema da senhorio.

Frases sobre senhorio

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“Será possível esperar que realizemos um sacrifício do entendimento, um sacrificium intellectus, para poder aceitar aquilo que sinceramente não podemos considerar verídico - só porque tais concepções estão contidas na Bíblia? Ou deveríamos deixar de lado os versículos do Novo Testamento que contêm tais concepções mitológicas e selecionar os que não constituem um tropeço desse tipo para o ser humano moderno? De fato, a pregação de Jesus não se limitou a afirmações escatológicas. Proclamou também a vontade de Deus, que é Seu mandamento, o mandamento de fazer o bem. Jesus exige veracidade e pureza, disposição para o sacrifício e para o amor. Exige que o ser humano todo seja obediente a Deus, e se insurge contra a ilusào de que possamos cumprir nosso dever para com Deus com a mera observância de determinadas prescrições externas. Se as exigências éticas de Jesus constituem tropeços para o ser humano moderno, somente o são em virtude de sua vontade egoísta, mas não de sua inteligência.
Que se desprende disso tudo? Deveremos conservar a pregação ética de Jesus e abandonar sua pregação escatológica? Haveremos de reduzir sua pregação do senhorio de Deus ao chamado "evangelho social"? Ou existe ainda uma terceira possibilidade? Temos que perguntar-nos se a pregação escatológica e o conjunto dos enunciados mitológicos contêm um significado ainda mais profundo, que permanece oculto sob o invólucro da mitologia. Se é assim, devemos abandonar as concepções mitológicas precisamente porque queremos conservar seu significado mais profundo. A esse método de interpretação do Novo Testamento, que procura redescobrir o significado mais profundo oculto por trás das concepções mitológicas, camo de "demitologização”

Rudolf Karl Bultmann (1884–1976) professor académico alemão

termo que nào deixa de ser bastante insatisfatório. Não se propõe a eliminar os enunciados mitológicos, mas sim interpretá-los."
Verificadas, Jesus Cristo e Mitologia

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“Calcula-se que a Peste Negra matou entre um terço e metade dos europeus, e que teve um impacto equivalente na China. Assinalou, para ambas as civilizações, o termo súbito e selvagem de uma era de crescimento e progresso, exacerbada por uma mudança no clima que trouxe invernos muito mais frios e colheitas devastadas. Na Europa, teria alguns efeitos surpreendentes. Excepcionalmente, uma vez que tanto do indispensável campesinato trabalhador nos países ocidentais, como França e Inglaterra, morreu, os que restaram puderam negociar melhores salários e libertar-se um pouco das exigências dos senhorios. Os começos de uma sociedade mais versátil, já não tão aferrada à propriedade da terra pelas famílias nobres, surgiram em consequência da matança bacteriana.
Estranhamente, na Europa Oriental o efeito foi quase inverso. Os proprietários de terras acabaram por ver o seu poder e alcance acrescidos e arrastaram gradualmente o campesinato sobrevivente para uma sujeição mais pesada, designada pelos historiadores como «segunda servidão». Isto foi possível porque os proprietários da Europa Oriental, que chegaram mais tarde ao feudalismo, eram um pouco mais poderosos e bem enraizados antes de ter chegado a epidemia. As cidades da actual Polónia, da Alemanha Oriental e da Hungria eram menos povoadas e poderosas do que as cidades mercantis – apoiadas no comércio da lã e do vinho – do norte de Itália e de Inglaterra. Os progressos nos direitos jurídicos e no poder das guildas na Europa Ocidental poderão não ter sido extraordinários pelos padrões actuais, mas foram suficientes para terem feito pender a vantagem contra a nobreza, num momento em que a força de trabalho era escassa. A leste, a aristocracia era mais impiedosa e deparava com menos resistência do campesinato disperso. Assim, uma modesta diferença no equilíbrio do poder, subitamente exagerada pelo abalo social decorrente da Peste Negra, provocou mudanças extremamente divergentes que, durante séculos, teriam como efeito um maior avanço e uma maior complexidade social da Europa Ocidental em comparação com territórios de aparência semelhante imediatamente a leste.
A França e a Holanda influenciaram todo o mundo; a Polónia e as terras checas influenciaram apenas o mundo da sua envolvência imediata.
Esses efeitos eram, obviamente, invisíveis para aqueles que atravessaram as devastações da peste, que regressaria periodicamente nos séculos mais próximos. No primeiro regresso, particularmente horrendo, as cidades tornaram-se espectros fantasmagóricos do espaço animado que em tempos haviam sido. Aldeias inteiras esvaziaram-se, deixando os seus campos regressarem ao matagal e aos bosques. Prosperaram a obsessão e o extremismo religiosos, e impregnou-se profundamente no povo cristão uma visão sombria do fim dos tempos. As autoridades vacilavam. As artes e os ofícios decaíram. O papado tremeu. Do outro lado da Eurásia, a glória da China Song desmoronou-se e também aí os camponeses se revoltaram. A mensagem de esperança de Marco Polo ecoou em vão entre povos que ainda não estavam suficientemente fortes para se esticarem e darem as mãos.”

Andrew Marr (1959) jornalista britânico

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