“«Bom dia», diz ele, e ocorre-me então que a palavra «dia», no sentido em que ele a emprega, se refere especificamente às horas entre as oito da manhã e o meio-dia. Nunca tinha pensado nisso antes. Ele quer que as horas entre as oito e o meio-dia sejam boas, isto é, agradáveis, divertidas, proveitosas! Quatro horas de prazer e trabalho frutuoso! Caramba, é estupendo! Que coisa mais simpática! Bom dia! E o mesmo se aplica a «boa tarde» e «boa noite»! Meu Deus! A língua inglesa é uma forma de comunicação! O acto de conversar não é apenas um fogo cruzado em que se dispara e se é atingido!” Philip Roth livro Portnoy's Complaint Portnoy's Complaint
“Será que considero esta inquietação, este desvario, como uma doença - ou como um talento? Como ambos? Pode ser. Ou será que é apenas um meio de fuga? Olhe, pelo menos não me encontro casado, aos trinta e poucos, com uma criatura decente, cujo corpo deixou de ter para mim qualquer interesse genuíno - pelo menos não tenho de ir para cama todas as noites com alguém que vez por outra marreto por obrigação, ao invés de desejo. Quero referir-me à horrenda depressão que algumas pessoas experimentam na hora de ir para a cama… Por outro lado, mesmo eu devo admitir que talvez exista, de uma certa perspectiva, algo um tanto deprimente quanto à minha situação, também. É claro que não posso ter tudo; é o que me parece. A questão, porém, que desejo enfrentar é: tenho eu alguma coisa?” Philip Roth livro Portnoy's Complaint Portnoy's Complaint
“Ponto final dos paneleiros de sobretudo inglês que a levavam a almoçar ao Serendipity, e nos velhos industriais de cosméticos devassos com a baba a escorrer pelo queixo à mesa do jantar de cem dólares no Le Pavillon. Não, chegara enfim a figura que durante tantos anos povoara os seus sonhos, um homem capaz de ser bom para a mulher e os filhos… um judeu. E que judeu! Primeiro come-a, e depois, logo a seguir, desliza pelo corpo dela acima e começa a falar e a explicar coisas, a fazer juízos a torto e a direito, a indicar-lhe que livros há-de ler e em quem há de votar, a dizer-lhe como deve e não deve viver-se a vida.«Como é que sabes?», costumava ela perguntar, desconfiada. «Quer dizer, isso é só a tua opinião, mais nada.»«Qual opinião qual quê - não é a minha opinião, menina, é a verdade.»” Philip Roth livro Portnoy's Complaint Portnoy's Complaint
“Quando sou realmente mau, tão perverso que não lhe resta senão erguer as mãos para o céu e perguntar a Deus o que fez para merecer um filho assim, nessas ocasiões o meu pai é convocado para fazer justiça; descobre-se então que a minha mãe é demasiado sensível, um ser demasiadamente delicado, para administrar castigos corporais. «Dói-me mais a mim», ouço-a a explicar à tia Clara, «do que lhe dói a ele. Eu sou assim feita. Não sou capaz, pronto.»Oh, pobre mãe.” Philip Roth livro Portnoy's Complaint Portnoy's Complaint
“Ela nem sequer está autorizada a comer pudim de chocolate. Azar o teu, Hannah, quem mandou não fui eu, foi o médico. Não tenho culpa de seres gorda e lenta e de eu ser magro e brilhante. Não tenho culpa de ser tão lindo que obrigam a mãe a parar na rua quando ela me vai passear no carrinho para poderem ver melhor o meu belo «punim» - tu bem a ouves a contar esta história, é uma coisa em que eu não tive a menor responsabilidade, um simples facto da natureza, eu ter nascido lindo e tu teres nascido, se não feia, pelo menos uma criança para quem ninguém tem especial vontade de olhar.” Philip Roth livro Portnoy's Complaint Portnoy's Complaint