“E os olhos do escuro de amarelaram. E se viram escorrer, enxofrinhas, duas lagriminhas amarelas em fundo preto.O escuro ainda chorava:- Sou feio. Não há quem goste de mim.- Mentira, você é lindo. Tanto como os outros.- Então porque não figuro nem no arco-íris?- Você figura no meu arco-íris.- Os meninos têm medo de mim. Todos têm medo do escuro.- Os meninos não sabem que o escuro só existe é dentro de nós.- Não entendo, Dona Gata.- Dentro de cada um há o seu escuro. E nesse escuro só mora quem lá inventamos. Agora me entende?- Não estou claro, Dona Gata.- Não é você que me te medo. Somos nós que enchemos o escuro com nosso medos.” Mia Couto (1955) O Gato e o Escuro
“Assim como as crianças, que no escuro tremem de medo e temem tudo,nós, na claridade, às vezes temos receio de certas coisasque não são mais terríveis do que aquelas que as crianças tememno escuro e pensam que acontecerão a elas.” Lucrecio (-94–-55 a.C.) filósofo romano
“Havia uma palavra no escuro. Minúscula. Ignorada. Martelava no escuro. Martelava no chão da água. Do fundo do tempo, martelava. contra o muro. Uma palavra. No escuro. Que me chamava.” Eugenio de Andrade (1923–2005)