“A história do comunismo, do movimento comunista, é no fundamental, embora num percurso acidentado, a história de uma luta social constante na defesa dos interesses e direitos dos explorados e oprimidos, tendo como objectivo construir uma sociedade nova e melhor, o que implica confiança no ser humano e exclui a crença em formas sobrenaturais, que decidam do seu destino. Os objectivos e a luta dos comunistas hoje são inseparáveis dos objectivos e da luta desde o Manifesto Comunista de 1848. A Igreja católica pouco tem a ver com os primeiros cristãos que eram perseguidos. Aquele aquem se atribui a fundação da Igreja, S. Pedro, foi crucificado e de cabeça para baixo. Quando, alguns dizem que Cristo foi o primeiro comunista, atribuem-lhe ideias e comportamentos com os quais pouco ou nada têm a ver as ideias e os comportamentos da Igreja Católica ao longo dos anos, pois ela se tornou um elemento integrante do feudalismo, e depois do capitalismo, a não ser em alguns dos seus sectores que retomam as melhores ideias e comportamentos atribuídos a Cristo. No movimento comunista e na concretização dos seus objectivos registaram-se, graves situações e fenómenos que se afastaram dos ideais sempre proclamados pelos comunistas. Mas, se se fala em comunismo hoje, eu só compreendo mantendo e defendendo esses ideais e não renegando as grandes realizações e o património de luta de gerações e gerações de comunistas. Os comunistas não têm uma concepção ideológica separada de uma intervenção prática. Ao contrário da Religião, não aceitamos o conformismo e a resignação. Não estamos a lutar por uma concepção; estamos, com uma concepção, a lutar pela solução de problemas concretos da humanidade e por uma transformação da sociedade que os resolva. Estamos cá na terra, com os pés assentes na terra.” Álvaro Cunhal (1913–2005) político e escritor português De destino , De idade , Problema , História
“As grandes conquistas da Revolução, que foram inscritas na Constituição da República elaborada e aprovada pela Assembleia Constituinte em 1976, a abolição do capitalismo monopolista, a nacionalização dos sectores básicos, a reforma agrária e outras, podem ler-se no programa do Partido Socialista aprovado no Congresso que realizou em Dezembro de 1974. Mas, como Mário Soares já disse, "programas são programas", e assim achou certamente muito natural meter tudo isso numa gaveta ou deitar tudo isso para o cesto dos papéis.” Álvaro Cunhal (1913–2005) político e escritor português
“Mas juro-te [burocrata do sector de viagens da RTP] que hás-de morrer sem conhecer o prazer de estar deitado de costas na areia, coberto de pó e de sujidade, a arrotar atum por todos os lados, com os músculos a doerem, e a olhar para um céu pejado de estrelas e pensar que é fantástico estar vivo.” Miguel Sousa Tavares (1952) Sul Viagem , De prazer , Estrela , Deitado