Fernando Pessoa: Citações em tendência (página 23)

“O que há de bom ou mau em qualquer crença, «qualquer», é o modo como se crê. O bem ou o mal estão no psiquismo do crente, não na crença.”

“Tudo é orgulho e inconsciência. Tudo é querer mexer-se, fazer cousas, deixar rastro. E houve pasmos de toda a realidade ser só isto
Mas a vida era a vida e só era a vida”

“Eu sei que não sou nada e que talvez nunca tenha tudo. Aparte isso, eu tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

“A experiência direta é o subterfúgio, ou o esconderijo, daqueles que são desprovidos de imaginação. Os homens de ação são os escravos dos homens de entendimento. As coisas não valem senão na interpretação delas. Uns, pois, criam coisas para que os outros, transmudando-as em significação, as tornem vidas. Narrar é criar, pois viver é apenas ser vivido.”

“Repudiei sempre que me compreendessem. Ser compreendido é prostituir-se. Prefiro ser tomado a sério como o que não sou, ignorado humanamente, com decência e naturalidade?”

“Eu sou o intervalo entre o meu querer e o que a vontade dos outros fez de mim.”

“O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir a dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, na dor lida sentem bem não duas que ele teve, mas só as que eles não têm. E assim nas calhas de roda gira, a a entreter a razão, esse comboio de corda que se chama coração.”

“Eu amo tudo o que foi. Tudo o que já não é. A dor que já não me dói. A antiga e errônea fé. O ontem que a dor deixou. O que deixou alegria. Só porque foi, e voou. E hoje é já outro dia.”

“A diferença entre Deus e nós deve ser não de atributos, mas da própria essência do ser. Ora tudo é o que é. Portanto Deus é não só o que é mas também o que não é. Confunde-nos de Si com isso.”

“A consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligência. Há inteligências inconscientes - brilhos do espírito, correntes do entendimento, mistérios e filosofias - que têm o mesmo automatismo que os reflexos corpóreos, que a gestão que o fígado e os rins fazem de suas secreções.”

“O sinal intelectual exterior da vaidade é a tendência à zombaria e ao rebaixamento dos outros. Só pode zombar e deleitar-se na confusão dos outros quem, instintivamente, se sente não vulnerável a semelhante zombaria e rebaixamento.”

“Tenho dito tantas vezes, quanto sofro sem sofrer, que me canso dos revezes, que sonho só para os não ter.”

“O campo é onde não estamos. Ali, só ali, há sombras verdadeiras e verdadeiro arvoredo.”

“O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em acção.”

“Tudo em meu torno é o universo nu, abstrato, feito de negações noturnas. Divido-me em cansado e inquieto, e chego a tocar com a sensação do corpo um conhecimento metafísico do mistério das coisas.”

“A mim este sol, estes prados, estas flores contentam-me.”

“Mudem-me os deuses os sonhos, mas não o dom de sonhar.”

“Segue o teu destino… Rega as tuas plantas; Ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheias”

“Os argumentos são, quase sempre, mais verdadeiros do que os factos. A lógica é o nosso critério de verdade, e é nos argumentos, e não nos factos, que pode haver lógica.”