Clarice Lispector: Ser (página 3)

Clarice Lispector era Escritora ucraniano-brasileira. Explore frases interessantes em ser.
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“(…)sentou-se para descansar e em breve fazia de conta que ela era uma mulher azul porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul, faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações. faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente de Deus, não Lóri mas o seu nome secreto que ela por enquanto ainda não podia usufruir, faz de conta que vivia e não que estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que ela era sábia bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os pulsos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão, faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta, faz de conta que se descontraía o peito e uma luz douradíssima e leve guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranqüilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro.”

“Mas há a vida/ que é para ser intensamente vivida,/ há o amor./ Que tem que ser vivido/ até a última gota./ Sem nenhum medo./ Não mata.”

"Mas há vida" in: "A descoberta do mundo: crónicas" - página 373, Clarice Lispector - Francisco Alves, 1994, ISBN 8526502654, 9788526502659 - 533 páginas
Variante: Mas há a vida/ que é para ser intensamente vivida,/ há o amor./ Que tem que ser vivido/ até a última gota./ Sem nenhum medo./ Não mata.

“Que desafio, hein?… Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la…”

Perto do Coração Selvagem - p.55
Variante: Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la

“Não tenho tempo para mais nada. Ser feliz me consome muito”

Variante: Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito.