Clarice Lispector: Ser (página 2)

“"(…) E era bom. "Não entender" era tão vasto que ultrapassava qualquer entender - entender era sempre limitado. Mas não entender não tinha fronteiras e levava ao infinito, ao Deus. Não era um não entender como um espírito. O bom era ter inteligência e não entender. Era uma benção como a de ter loucura sem ser doida. Era um desinteresse manso em relação às coisas ditas do intelecto, uma doçura de estupidez. (…) Clarice Lispector, in: Uma aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, 8a. ed, RJ: Editora Nova Fronteira, 1980, p. 44”

“O que o ser humano mais aspira é tornar-se um ser humano.”

“No mais fino e doído do seu sentimento ela pensava: - Vou ser Feliz!”

“Oh Deus, que faço dessa felicidade ao meu redor que é eterna, eterna, eterna e que passará daqui a um instante. Porque o corpo só nos ensina a ser mortal?”

“Eu tenho à medida que designo – e este é o esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho muito mais à medida que não consigo designar. A realidade é a matéria-prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la – e como não acho. Mas é do buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é o meu esforço humano.
Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas – volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu.”

“A vida é igual em toda a parte e o que é necessário é a gente ser a gente.”

“… há impossibilidade de ser além do que se é”

“Ser um ser permissível a si mesmo é a glória de existir.”

“Nada é mais igual do que dessa vez vai ser diferente.”

“E o mundo a me exigir decisões para as quais não estou preparada. Decisões não só a respeito de provocar o nascimento de fatos mas também decisões sobre a melhor forma de se ser.”

“Preciso ser livre - não aguento a escravidão do amor grande, o amor não me prende tanto.”

“Ser livre é seguir-se afinal.”

“De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim.”

“No entanto como seria bom construir alguma coisa pura, liberta do falso amor sublimizado, liberta do medo de não amar… Medo de não amar, pior que o medo de não ser amado…”

“Tenho uma paz profunda, somente porque ela é profunda e não pode ser sequer atingida por mim mesmo; se fosse alcançável por mim, eu não teria um minuto de paz.”

“Eu que detesto domingo por ser oco.”

“Para ela a realidade era demais para ser acreditada.”

“Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem. Tenho coragem mas com um pouco de medo. Pessoa feliz é quem aceitou a morte. Quando estou feliz demais, sinto uma angústia amordaçante: assusto-me.”

“[…] E é porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar do meu modo. É porque ainda não sei ceder. […] É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. […] Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo.”