“escrever é um bocado fazer respiração boca-a-boca ao dicionário de Moraes, à gramática da 4ª classe e aos restantes jazigos de palavras defuntas” António Lobo Antunes livro Memória de Elefante Memoria de elefante
“comerei beijos como quem come sopa, e palitarei as gengivas no fim para extrair dos molares restos incómodos de ternura” António Lobo Antunes livro Memória de Elefante Memoria de elefante
“E porque é que só sei gostar, perguntou-se examinando as bolhas de gás pegadas à parede do vidro, porque é que só sei dizer que gosto através dos rodriguinhos de perifrases e metáforas e imagens, da preocupação dealindar, de pôr franjas de crochet nos sentimentos, de verter a exastação e a angustia na cadencia pindérica do fadomenor, alma a gingar, piegas, à Correia de Oliveira de samarra, se tudo isto é limpo, claro, directo, sem precisão de bonitezas, enxuto como uma Giacometti numa sala vazia e tão simplesmente eloquente como ele: depor palavras aos pés de uma escultura equivale às flores inuteis que se entregam aos mortos ou à dança da chuva em torno de um poço cheio: chiça para mim e para o romantismo meloso que me corre nas veias, minha eterna dificuldade em proferir palavras secas e exactas como pedras” António Lobo Antunes livro Memória de Elefante Memoria de elefante
“esse homem que morava numa garrafa de uísque como os barcos dos colecionadores” António Lobo Antunes livro Memória de Elefante Memoria de elefante