Mia Couto: Citações em tendência (página 11)

“está-se escritor, não se é escritor.
(…)
o caminhar de um leão é uma dança em busca de corpo, o seu olhar foi feito para nos paralisar e nos roubar os sentidos.
(…)
O escritor faz‑se como todas as pessoas se fazem: olhando o mundo como se fosse pela primeira vez e descobrindo no Tempo algo que pode ainda ser estreado.”

“Não seria nunca capaz de me retirar, virar costas. Eu tinha a doença da baleia que morre na praia, com os olhos postos no mar.”

“Coração que ama engrandece.”

“Lhe doía esse simples ensinamento: tudo é terminável, até o futuro.”

“O que não é nosso num mundo onde tudo nos roubam?”

“A morte, afinal, é uma corda que nos amarra as veias.”

“Mas quem é escolhido por Deus perde sempre os seus caminhos.”

“O que importa não é passear de noite mas deixar a noite passear-se em nós.”

“E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.

in O amor, meu amor”

“O parto é uma mentira: nós não nascemos nele. antes, já estamos nascendo. A gente vai acordando no antecedente do tempo, antes mesmo de nascer. É como a planta que, no segredo da terra, já é raíz antes de rpoclamar seu verde sobre o mundo.”

“Às vezes, as línguas fazem-nos ser.”

“onde a noite mais escurece é em volta do pirilampo.”

“A vida só sucede quando deixamos de a entender.”

“A alma toda de um vidente pode ficar atrás dos dentes?”

“Toda a vida acreditei: amor é dois se duplicarem em um. Mas hoje sinto: ser um é ainda muito. De mais. Ambiciono, sim, ser o múltiplo de nada. Ninguém no plural. Ninguéns.”

“Esses se inflamam no crepúsculo: são os inflamingos.
(…)
- Caso do beija-flor. É um nome que deveria ser consertado. A flor é que levaria o título de beija-pássaro.”

“A tristeza é uma janela que se abre nas traseiras do mundo.”

“A primavera cabe dentro do grilo.
Cigarras se alfabetizam de silêncios.
No liso da parede,
a osga se prepara para transparências,
adquire a forma do nada.
Enquanto o ramo vai transitando para camaleão.”

“Essa lama que lhe chapeava as pernas, numa pasta cinzenta ao jeito dos elefantes. Parecia envergar África, besuntado dos seus fluidos mais viscerais.”