“Graças a Karl Kraus comecei a compreender que cada indivíduo tem uma configuração lingüística própria, que o distingue de todos os demais. Compreendi que embora os homens falem uns com os outros, não se entendem; que suas palavras são golpes que ricocheteiam nas palavras dos outros; que não existe ilusão maior do que a opinião de que a língua é um meio de comunicação entre seres humanos. Fala-se com a outra pessoa, mas de uma maneira que ela não entende. Continua-se a falar, e ela entende ainda menos. Um grita, o outro grita também: a exclamação, que tem uma vida miserável na gramática, apodera-se da língua. Como bolas, as exclamações saltam para lá e para cá, chocam-se e caem pelo chão. Raramente algo que se diz consegue infiltrar-se nos outros; e, quando isso afinal acontece, é entendido às avessas.” Elias Canetti (1905–1994) The Conscience of Words
“Ninguém, em si, eleva-se acima de seu tempo. Os sublimes não estão, absolutamente, entre nós - podem estar na Grécia antiga ou entre alguns bárbaros. Muita cegueira advém de se estar tão distante, mas o direito de fechar-se aos próprios sentidos não pode ser negado a ninguém. Seja-lhes concedido isso.” Elias Canetti (1905–1994) The Conscience of Words
“Quão lamentável é arriscar tudo em um único combate, negligenciando a estratégia vitoriosa, e fazer com que o destino de tuas armas dependa de uma única batalha!” Sun Tzu livro A Arte da Guerra The Art of War
“Pensa-se de dia – a – dia. Se começamos a pensar no futuro, no nosso futuro pessoal, perdemos a coragem. E, de repente, lembramo-nos de todas as coisas que fizemos e que foram um desperdício de tempo… os minutos que desperdiçámos e que nunca podemos reaver. E apercebemo-nos de que o tempo é a coisa mais preciosa de todas. Porque o tempo é a vida. É a única coisa que nunca podemos recuperar. É possível perder uma rapariga e quem sabe voltar a conquistá-la… ou encontrar outra. Mas um segundo, este segundo, quando se vai, é irreversível.” Jacqueline Susann livro Valley of the Dolls Valley of the Dolls
“Não há salvação. Nem mesmo a embriagez do desespero e a resolução cega, porque tu estás aí, nessa cama, na luz selvagem da tua morte.” Simone de Beauvoir livro The Blood of Others The Blood of Others
“Assim, para recapitular a nossa discussão do valor da filosofia: a filosofia é de estudar não por causa de quaisquer respostas definitivas às suas questões, dado que nenhumas respostas definitivas podem, em regra, ser conhecidas como verdadeiras, mas antes por causa das próprias questões; porque estas questões alargam a nossa concepção do que é possível, enriquecem a nossa imaginação intelectual e diminuem a confiança dogmática que fecham a mente contra a especulação; mas acima de tudo porque, através da grandeza do universo que a filosofia contempla, a mente também se torna grandiosa, e torna-se capaz dessa união com o universo que constitui o seu bem maior.” Bertrand Russell The Problems of Philosophy The Problems of Philosophy
“A humanidade, que ao longo de milhares de anos foi atormentada pela ideia falsa, bizarra e infeliz de que era dominada por uma figura paternal severa e quase cheia de ódio, no espaço de alguns dias descobriu o seu erro.Em vez dele, havia uma mãe.Enquanto a existência a cada momento se afastava, a uma velocidade crescente, do estado descritível para entrar num reino para o qual já não existiam palavras, A LÍNGUA COMEÇOU A MORRER.Um dos últimos fragmentos de linguagem dizia:SE DEUS EXISTE, TUDO É PERMITIDO.” Lars Gustafsson (1936–2016) The Death of a Beekeeper
“As crianças são completamente egoístas; sentem suas necessidades intensamente e lutam impiedosamente para satisfazê-las - especialmente contravos rivais, outras crianças, e primeiro e antes de tudo contra seus irmãos e irmãs. Mas não chamamos uma criança de má em virtude disso, chamamos de levada, ele não é mais responsável por seus malfeitos ao nosso julgamento do que aos ohos da lei. E é certo que assim seja; pois podemos esperar que antes do fim do período que consideramos infância, impulsos altruísticos e a moralidade despeetarão no pequeno esgoísta e um ego secundário sufocará e inibirá o primário.” Sigmund Freud livro A Interpretação dos Sonhos The Interpretation of Dreams
“A existência pacífica na maioria das sociedades humanas possui um curso enganoso, procurando encobrir perigos e fissuras. O desaparecimento constante de pessoas de seu meio - pessoas que aqui e ali, subitamente, não se encontram mais entre os vivos - é entendido e explicado de tal forma que é como se elas não tivessem sumido de todo. Dirigimo-nos a elas, em procedimento tranquilizadores de caráter singular, como se ainda pudessem ter parte na sociedade. Em muitos casos, acreditava-se realmente na permanência delas em algum lugar, e sua inveja dos vivos era temida, pois podia acarretar perigosas conseqüências para estes.” Elias Canetti (1905–1994) The Conscience of Words
“Credo, ideal, mulher ou profissão - tudo isso é a cela e as algemas.” Fernando Pessoa livro Livro do Desassossego The Book of Disquiet
“A melhor forma de determinar se uma pessoa foi expulsa do âmbito da lei é perguntar se, para ela, seria melhor cometer um crime. Se um pequeno furto pode melhorar a sua posição legal, pelo menos temporariamente, podemos estar certos de que foi destituída dos direitos humanos. Pois o crime passa a ser, então, a melhor forma de recuperação de certa igualdade humana, mesmo que ela seja reconhecida como exceção à norma.” Hannah Arendt livro As Origens do Totalitarismo The Origins of Totalitarianism
“… de vermos qualquer coisa de sólido em vez deste vazio pavoroso neste espaço cuja extensão atroz nunca ousámos imaginar enquanto vivíamos no nosso buraco, porque é como um poço sem fundo; debruçamo-nos cada vez mais, a tal ponto que acabamos por cair, e uma vez caídos, continuamos a cair toda a vida sem termos outra coisa para viver além dessa queda sem fim, até ao dia em que morremos em plena queda sem jamais chegarmos a atingir fundo algum, porque somos aniquilados durante a nossa própria queda e devorados pelo vazio depois de termos desesperadamente tentando dar-lhes sentido esforçando-nos para chegar ao fundo” Stig Dagerman (1923–1954) Island of the Doomed
“E, então, o tempo, o tempo verdadeiramente físico, não se orienta pelo relógio; ele é antes, e no mais das vezes, uma função da atmosfera na qual transcorre. É, portanto, extraordinariamente difícil determinar, mesmo aproximadamente, quando um se juntou de fato à companhia dos outros, quando o outro se levantou e quando o terceiro realmente partiu.” Elias Canetti (1905–1994) The Conscience of Words
“Os pensamentos que zoam no meu crânio são locatários de uma noite, meia dúzia de pares sem casa num ninho de amor passageiro, o fragor do guindaste da draga virá igualizar tudo, os momentos de deliciosa angústia do meu coração são roubados à sociedade de armadores que me emprega” Stig Dagerman (1923–1954) Island of the Doomed
“Contudo, o sentimento em relação às terras distantes permanece, e o interesse por elas jamais arrefece. Assim, o homem cavouca, insaciável, em épocas passadas e em culturas desconhecidas. A rigidez da própria existência aumenta, e essas épocas e culturas oferecem o instrumento inesgotável para a transformação.” Elias Canetti (1905–1994) The Conscience of Words
“A história não são apenas fatos e eventos. A história também é a dor em nosso coração, e nós repetimos a história até que sejamos capazes de fazer nossa a dor no coração de outro.” Sue Monk Kidd (1948) The Invention of Wings
“Levo comigo, só de ouvir estas sombras de discurso humano que é afinal o tudo em que se ocupam a maioria das vidas conscientes, um tédio de nojo, uma angústia de exílio entre aranhas e a consciência súbita de meu amarfanhamento entre gente real; a condenação de ser vizinho igual, perante o senhorio e o sítio, dos outros inquilinos do aglomerado, espreitando com nojo, por entre as grades traseiras do armazém da loja, o lixo alheio que se entulha à chuva no saguão que é a minha vida.” Fernando Pessoa livro Livro do Desassossego The Book of Disquiet
“O hábito não faz o monge, mas o crime ou a sua presunção fazem o detetive, sobretudo o amador.” Carlos Ruiz Zafón livro The Prisoner of Heaven The Prisoner of Heaven
“Tenho a náusea física da humanidade vulgar, que é, aliás, a única que há. E, capricho, às vezes, em aprofundar essa náusea, como se pode provocar um vómito para aliviar a vontade de vomitar.A intriga, a maledicência, a prosápia falada do que se não ousou fazer, o contentamento de cada pobre bicho vestido com a consciência inconsciente da própria alma, a sexualidade sem lavagem, as piadas como cócegas de macaco, a horrorosa ignorância da inimportância do que são…” Fernando Pessoa livro Livro do Desassossego The Book of Disquiet